Acerca de mim

Gosto de partilhar os meus conhecimentos com as pessoas, gosto de ter amigos, gosto de estar bem disposta, gosto de estar com a minha família, gosto muito da minha filha Rita

sexta-feira, 30 de maio de 2014

GRUPO CORAL DE CANTARES DE PORTEL - LARANJA DA CHINA.wmv (+lista de repr...

Alentejo de Sonho

Alentejo Os Meus Amores

Belezas do Alentejo

Campos do Alentejo

Alentejo Terra de Sol

Alentejo Diversificado

Saudades do Meu Alentejo

terça-feira, 27 de maio de 2014

CRAVO, ROSA E JASMIM

Uma mulher tinha três filhas; indo a mais velha passear a uma ribeira, viu dentro de água um cravo, debruçou-se para o apanhar, e ali desapareceu.
No dia seguinte, sucedeu o mesmo à outra irmã, porque viu dentro da ribeira uma rosa.
Por fim, a mais nova também desapareceu, por querer apanhar um jasmim.
A mãe das três raparigas ficou muito triste e chorou, chorou muito o desaparecimento das filhas.  Passado um tempo deu à luz um rapaz, que quando se fez homem lhe perguntou porque é que a mãe chorava tanto. A mãe contou-lhe como é que ficara sem as suas três filhas.
-Pois dê-me a sua benção, que eu vou por esse mundo fora à procura delas.
Foi. No caminho encontrou três rapagões numa grande briga. Chegou-se ao pé deles e perguntou-lhes porque brigavam?
Um deles respondeu-lhe: - Oh senhor! o meu pai tinha umas botas, um chapéu e uma chave, que nos deixou. As botas em a gente as calçando, e lhes diga: Botas, ponham-me em qualquer banda, é que a gente aparece onde quer; a chave abre todas as portas; e o chapéu em se pondo em cima da cabeça, ninguém mais nos vê. O nosso irmão mais velho quer ficar com as três coisas para si, e nós queremos que se repartam á sorte.
Isso arranja-se bem , - disse o rapaz querendo harmonizá-los - eu atiro esta pedra para bem longe, e quem primeiro a apanhar é que há-de ficar com as três coisas.
Assentaram nisso; e quando os três irmãos corriam atrás da pedra, o rapaz pegou na chave e no chapéu e calçou as botas, dizendo:
-Botas! levem-me ao lugar em que está a minha irmã mais velha..
Achou-se logo numa montanha escarpada onde estava um grande castelo, fechado com grossos cadeados. Meteu a chave e todas as portas se lhe abriram; andou por salas e corredores, até que deu com uma senhora muito linda e bem vestida, que estava muito alegre, mas que ao vê-lo gritou com espanto: - Oh Senhor!! como é que pôde aqui entrar ?!
O rapaz disse-lhe que era seu irmão e contou-lhe como é que tinha podido chegar até ali. Ela também lhe contou a sua felicidade, mas que o único desgosto que tinha era não poder o seu marido quebrar o encanto em que estava, porque sempre lhe tinha dito que só se desencantaria quando morresse um homem que tinha o condão de ser eterno.
Conversaram bastante, e por fim a senhora pediu-lhe para que se fosse embora, porque podia vir o marido e fazer-lhe mal. O irmão disse-lhe que não tivesse cuidado porque trazia um chapéu que quando o pusesse na cabeça ninguém mais o via. De repente abriu-se a porta e apareceu um grande pássaro; mas , nada  viu, porque o rapaz quando sentiu barulho pôs logo o chapéu. A senhora foi buscar uma grande bacia dourada, e o pássaro meteu-se lá dentro transformando-se logo num homem muito formoso

A RAINHA CARLOTA

Havia um rei que era solteiro, e os conselheiros instavam com ele para que se casasse, para deixar sucessores ao trono. O rei era amigo de caçar, e sempre que saía, passava defronte de uma cabana, onde morava um velho pastor e a sua formosa filha, chamada Carlota, que também era pastora.
Um dia, o rei disse à pastora: - Os meus vassalos querem que eu case, e tu és a única mulher de quem eu gosto; queres casar comigo?
-Isso não pode ser, senhor, porque eu apenas sou uma pobre pastora.
-É o mesmo, caso contigo; mas com uma condição, de nunca me contrariares nos meus desejos ou ordens, por pouco razoáveis que eles sejam.
-Estou por tudo que Vossa Majestade me ordenar
Dentro de dias realizar-se-ia o casamento. O rei mandou, para a cabana onde morava a pastora e o pai, fatos de rainha, que ela vestiu, deixando os seus trapinhos. Então, disse-lhe o velho pai:
-Guarda esses trapinhos para quando te sejam precisos.
A filha guardou as roupas velhas que tinha despido numa caixa, que deixou em poder do pai, e partiu para o palácio.
Fez-se o casamento e todos estavam muito contentes por verem o rei muito feliz e apaixonado pela sua linda esposa.
Ao fim de nove meses, Carlota deu à luz uma menina, tão formosa como sua mãe. Passados três dias, o rei entrou no quarto da esposa e disse-lhe:
-Trago-te uma triste notícia: os meus vassalos querem que eu mande matar a nossa filha, porque se não conformam ser um dia governados pela filha de uma pastora.
-Vossa Majestade manda e cumpre-me obedecer - respondeu a rainha, quase a saltarem-lhe as lágrimas dos olhos.
O rei recebeu a menina e entregou-a a um conselheiro.
Um ano depois, a rainha teve um filho, que o rei mandou igualmente matar sob o mesmo pretexto.
A rainha vivia muito triste, mas não se queixava, porque gostava muito do seu marido, o rei.
Alguns anos  depois, o rei, muito apoquentado, entrou no quarto da rainha e disse-lhe:
-Vou dar-te uma notícia, de todas a mais triste, os meus vassalos estão indignados comigo; não querem que estejas em lugar de rainha, e dizem-me que te expulse do palácio. Por isso querida Carlota, prepara-te que tens de voltar para a cabana do teu pai.
- Não se apoquente, Real Senhor, estou pronta a obedecer; parto já. - respondeu Carlota
-Tens de despir os fatos de rainha. - lembrou-lhe o rei
É o que já vou fazer - respondeu Carlota
E a rainha despiu toda a roupa que tinha vestida, ficando apenas com a camisa.
Não dispo a camisa porque encobre o ventre onde estiveram guardados os nossos filhos - disse a rainha, com os olhos rasos de água.
O rei não encontrou palavras para objectar.
Estava o velho pastor sentado à porta da sua cabana quando viu a filha aproximar-se. Recolheu-se logo para dentro, foi tirar da caixa os velhos vestidos e levou-os à filha para que ela os vestisse. Ela vestiu-os sem proferir qualquer queixume.
Continuou a sua antiga vida de pastora. Para ela a sua vida de rainha tinha sido apenas um sonho; lembrava-se muito dos seus filhos e para estes iam todas as suas saudades.
Passados muitos anos, o rei voltou à cabana de Carlota e disse-lhe que os vassalos insistiam com ele para se casasse; e por isso , tinha resolvido casar com uma formosa princesa de quinze anos.
-Efectivamente, um rei bom como Vossa Majestade merece ter uma descendência que lhe perpetue o nome. - disse-lhe Carlota
Venho pedir-te o favor de voltares ao palácio para dirigires as criadas da cozinha. Bem sabes que a princesa há-de ser acompanhada por fidalgos e vem igualmente acompanhada pelo seu irmão mais novo; quero por isso servi-los com um grandioso banquete.
-Estou pronta, vou logo que Vossa Majestade ordenar.
-Eles chegam amanhã. Deves ir hoje para o palácio.
Carlota foi vestida com um pobre vestido de chita com que costumava ir à igreja.
No dia seguinte, chegou a noiva e o irmão e uma comitiva de muitos fidalgos. Logo à sua chegada houve grandes festejos.
Carlota estava governando na cozinha e aí o rei foi encontrá-la e perguntou-lhe: - Não vens ver a minha noiva?
- Ela respondeu-lhe: - Estou à espera que venha alguém que me substitua aqui, enquanto vou e volto. Chegou então uma cozinheira e Carlota foi cumprimentar a noiva.
É muito linda! - disse Carlota beijando a mão da noiva - Deus conserve por  muitos anos a sua preciosa saúde. É digna do rei que vai receber para seu esposo.
A menina ficou estupefacta, quando ouviu estas palavras.
Então o rei ajoelhou-se diante de Carlota e disse: - Olha que são os teus filhos. Quis experimentar o teu coração: és uma pastora que vale mil rainhas.
Houve então muitos abraços, beijos e choros de parte a parte.
O rei mandara os filhos para casa de uma tia que os educara como príncipes, em vez de os mandar matar como tinha dito à rainha.

( Algarve - Loulé )

Este conto foi coligido da tradição oral pelo Dr Ataíde de Oliveira nos Contos Populares do Algarve; é de alto interesse, merecendo comparar-se com a versão literária do se´c XVI, das histórias de Proveito e Exemplo, de Trancoso, e que adiante se relaciona com a universalidade deste tema tradicional, extensamente idealizado na poesia da Idade Média. O povo português conhecia todos estes tesouros.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

O JULGAMENTO DA OVELHA

Monteiro Lobato ( 1882-1948)


Um cachorro de maus bofes acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver roubado um osso.
-Para que furtaria eu esse osso - alegou ela - se sou herbívora e um osso para mim vale tanto como um pedaço de pau?
-Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou já levá-la aos tribunais.
E assim fez.
Queixou-se ao gavião de penacho e pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doze urubus de papo vazio.
Comparece a ovelha. Fala. Defende-se de forma cabal, com razões muito irmãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.
Mas o juri, composto por carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu a sentença:
-Ou entrega o osso já e já, ou condenamos você à morte!
A ré tremeu: não havia escapatória!... Osso não tinha e não podia, portanto, restituir; mas tinha vida e ia entregá-la em pagamento do que não furtara.
Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a, esquartejou-a, reservou para si um quarto e dividiu o restante com os juízes famintos, a título de custas...

Fiar-se na justiça dos poderosos, que tolice!... A justiça deles não vacila em tomar do branco e solenemente decretar que é preto.

***
Esta fábula - disse Dona Benta  - é muito dolorosa. É um verdadeiro retrato da justiça humana; e se eu fosse explicar a lição que existe aqui, levaria um ano.. Não vale a pena. Vocês vão viver, vão crescer, vão conhecer os homens - e irão percebendo a profunda e triste verdade desta fabulazinha ...
-Que quer dizer "maus bofes", vóvó?
- Quer dizer de má índole, de maus sentimentos, e foi por ser assim que o cachorro acusou a pobre ovelha.
-E os urubus juízes também eram de "maus bofes"?
-Não esses eram apenas maus juízes, dos que julgam de acordo com  certos interesses, em vez de julgar de acordo com a justiça.
-Que interesse tinham eles no caso?
-Estavam com fome e queriam comer a ovelha
Emília protestou. Achou que nesse ponto a fábula não tinha "propriedade gastronómica"
-Porquê?
- Por que urubu não come carne fresca, só come carne podre ...



Sítio do Picapau Amarelo
Sítio do Picapau Amarelo é uma série de vinte e três livros de fantasia, escrita pelo autor brasileiro Monteiro Lobato entre1920 e 1947. A obra tem atravessado gerações e geralmente representa a literatura infantil brasileira. O conceito foi introduzido de um livro anterior de Lobato, A Menina do Narizinho Arrebitado (1920), a história sendo mais tarde republicada como o primeiro capítulo de Reinações de Narizinho (1931), que é o livro que serve de propulsor à série Sítio do Picapau Amarelo.

BURRICE





Caminhavam dois burros, um com uma carga de açúcar, o outro com uma carga de esponjas.
Dizia o primeiro:
-Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa.
Redarguiu o outro:
-Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.
-Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar o outro.
_Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e a minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.
_ Nem sempre é assim, nem sempre é assim... - continuou a filosofar o primeiro
Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera.
-E agora?
-Agora é passar a vau.
O burro do açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga se ia dissolvendo ao contacto da água, conseguiu sem dificuldade pôr pé na margem oposta.
O burro das esponjas, fiel às suas ideias, pensou para consigo:
_ se ele passou, passarei também - e lançou-se ao rio.
Mas a sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.
_ Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar - comentou o outro ...

***
- Que é passar a vau? - perguntou Pedrinho.
-É uma expressão antiga e muito boa. Quer dizer "vadear um rio" , passar por dentro da água no lugar mais raso.
-E porque é que a senhora disse "redarguiu"? Não é pedantismo? - quis saber a menina
-É e não é - respondeu Dona Benta. Redarguir é dar uma resposta que é também uma pergunta. Bonito, não é?
-Por que é e não é? Como uma coisa pode ao mesmo tempo ser e não ser?
-É pedantismo para os que gostam de uma linguagem mais simplificada possível. E não é pedantismo para os que gostam de falar com propriedade de expressão.
-E que é propriedade de expressão? - quis saber Narizinho.
-Propriedade de expressão -explicou Dona Benta - é a mais bela qualidade dum estilo. É dizer as coisas com a maior exactidão. Ainda há pouco Emília falou no "ferrinho do trinco da porta". Temos aqui uma "impropriedade de expressão". Se ela dissesse " lingueta do trinco" estaria falando com mais propriedade.
Mas é não é ferrinho? - redarguiu Emília.
-A lingueta do trinco é um ferrinho, mas um ferrinho não é lingueta - pode ser mil coisas

Monteiro Lobato (1882-1948) - A sua popularidade explica-se pelo sentido humano e pela expressão do falar popular que irradia das suas obras. Na sua criação literária, expressa os mais caros sentimentos do povo brasileiro na luta sagrada por uma vida digna. Monteiro Lobato foi militante do Partido Comunista Brasileiro.
Sítio do Picapau Amarelo é uma série de vinte e três livros de fantasia, escrita pelo autor brasileiro Monteiro Lobato entre1920 e 1947. A obra tem atravessado gerações e geralmente representa a literatura infantil brasileira. O conceito foi introduzido de um livro anterior de Lobato, A Menina do Narizinho Arrebitado (1920),

O RATO DA CIDADE E O RATO DO CAMPO




Vou transcrever uma fábula de Monteiro Lobato (1882-1948), grande escritor brasileiro.
Certo ratinho da cidade resolveu banquetear um compadre que morava no mato. E convidou-o para o festim, marcando lugar e hora.
Veio o rato da roça, e logo de entrada muito se admirou do luxo de seu amigo. A mesa era um tapete oriental, e manjares eram coisa papafina: queijo do reino, presunto, pão-de-ló, mãe-benta. Tudo isso dentro dum salão cheio de quadros, estatuetas e grandes espelhos de moldura dourada.
Puseram-se a comer.
No melhor da festa, porém, ouviu-se um rumor na porta. Incontinenti o rato da cidade fugiu para o seu buraco, deixando o convidado de boca aberta.
Não era nada, e o rato fujão logo voltou e prosseguiu no jantar. Mas ressabiado, de orelha em pé, atento aos mínimos rumores da casa.
Daí a pouco, novo barulhinho na porta e nova fugida do ratinho.
O compadre da roça torceu o nariz.
-Sabe que mais? Vou-me embora. Isto por aqui é muito bom e bonito, mas não me serve. Muito melhor roer o meu grão de milho no sossego da minha toca do que me fartar de gulodices caras com o coração aos pinotes. Até logo.
E foi-se
Antologia de Autores Portugueses e Brasileiros , Séculos XIX e XX, DistriEditora, pág244

domingo, 25 de maio de 2014

LENDA DOS AMORES DE D. LOPO (ELVAS)

Corria o ano de 1637. Na cidade fronteiriça de Elvas, vivia um jovem fidalgo, de poucas posses, chamado Lopo de Mendonça, conhecido pela sua valentia e porte galante e ainda pela sua influência entre as mulheres. D. Lopo era, por isso, presença assídua em todas as festas das redondezas. 

Numa dessas ocasiões, por alturas da feira de Zafra, aconteceu D. Lopo conhecer a mais bela das jovens casadoiras, D. Mência, daquela cidade espanhola. Logo se apaixonaram um pelo outro, passando o moço fidalgo a visitá-la com frequência. Contudo, numa dessas saídas, voltou apreensivo. Ao ser abordado pelo seu amigo D. Álvaro para que se abrisse com ele, contou-lhe que pedira D. Mência em casamento, mas que o pai recusara o pedido, pois ela estava prometida a D. Afonso Ramirez, descendente de uma nobre e riquíssima família.

A jovem tinha sido encerrada num convento enquanto preparavam a boda com o fidalgo espanhol. D. Álvaro ficou pensativo e, como não podia ver o amigo infeliz, logo ali o aconselhou a partir para Zafra para falar com D. Mência. Se ela o amasse verdadeiramente talvez concordasse em fugir com o fidalgo português. 
Assim fez D. Lopo. Era já noite quando chegou ao convento. Pediu para falar com uma das noviças junto de quem D. Mência tinha encontrado algum apoio e expôs-lhe o seu plano. A noviça ficou assustada, mas lá combinou um encontro entre os jovens apaixonados.

Era uma hora da madrugada quando finalmente puderam falar. As lágrimas corriam pelo rosto de D. Mência, pois julgava não mais ver o seu amado. Estava disposta a afrontar o pai, pois a vida sem D. Lopo representava a morte. Combinaram, então, encontrar-se no dia seguinte à mesma hora. D. Mência subiria à torre; aí estaria D. Lopo à sua espera. Em baixo, um cavalo e um pagem esperariam por eles.

O dia passou e chegou o momento aprazado. O jovem lá estava junto ao convento. Viu a corda pendente da torre e preparou-se para subir. De repente, viu-se rodeado por D. Árias, o pai de D. Mência, e quatro criados. O pagem contratado tinha-o traído. Era um dos criados de D.Árias.

Ouviu-se um grito na torre. D. Mência tinha desmaiado. Furioso com aquela emboscada e afrontado com a bofetada que o pai da jovem lhe tinha dado, D. Lopo desembainhou a sua espada e enterrou-a no peito de D. Árias. Depois defrontou-se com dois dos criados do fidalgo espanhol, ferindo-os. Os outros dois fugiram. Aproveitando a confusão, conseguiu fugir de Zafra e atingir Sevilha, onde se alistou numa companhia que partia nesse dia para Nápoles. Queria morrer honradamente, combatendo numa qualquer batalha, pois não conseguia esquecer que assassinara o pai da sua amada.

Um ano passou. D. Lopo regressou a Zafra e procurou D. Mência. A jovem professara naquele mesmo convento de Sta. Clara. Desiludido, angustiado, perseguido ainda pelo espectro de D. Árias, D. Lopo voltou para os campos de batalha e só descansou em paz quando a morte o veio finalmente buscar.

A Morte do Lidador

A Batalha de Ourique é um episódio simbólico para a monarquia portuguesa, pois conta-se que foi nela que D. Afonso Henriques foi pela primeira vez aclamado rei de Portugal, em 25 de Julho de 1139.

Foi no campo de Ourique que se defrontaram o exército cristão e os cinco reis mouros de Sevilha, Badajoz, Elvas, Évora e Beja e os seus guerreiros, que ocupavam o sul da península. A lenda conta que um pouco antes da batalha, D. Afonso Henriques foi visitado por um velho homem que o rei já tinha visto em sonhos e que lhe fez uma revelação profética de vitória.
Contou-lhe ainda que "sem dúvida Ele pôs sobre vós e sobre a vossa geração os olhos da Sua Misericórdia, até à décima sexta descendência, na qual se diminuirá a sucessão. Mas nela, assim diminuída, Ele tornará a pôr os olhos e verá." O rei deveria ainda, na noite seguinte, sair do acampamento sozinho logo que ouvisse a sineta da ermida onde o velho vivia, o que aconteceu.

O rei foi surpreendido por um raio de luz que progressivamente iluminou tudo em seu redor, deixando-o distinguir aos poucos o Sinal da Cruz e Jesus Cristo crucificado. O rei emocionado ajoelhou-se e ouviu a voz do Senhor que lhe prometeu a vitória naquela e em outras batalhas: por intermédio do rei e dos seus descendentes, Deus fundaria o Seu império através do qual o Seu Nome seria levado às nações mais estranhas e que teria para o povo português grandes desígnios e tarefas.

D. Afonso Henriques voltou confiante para o acampamento e, no dia seguinte, perante a coragem dos portugueses os mouros fugiram, sendo perseguidos e completamente dizimados. Conforme reza a lenda, D. Afonso Henriques decidiu que a bandeira portuguesa passaria a ter cinco escudos ou quinas em cruz representando os cinco reis vencidos e as cinco chagas de cristo, carregadas com os trinta dinheiros de Judas.


OURIQUE


 Num dia longínquo de 1170, Gonçalo Mendes da Maia, nomeado Lidador pelas muitas batalhas travadas e ganhas contra os Mouros, decidiu celebrar os seus 95 anos com um ataque ao famoso mouro Almoleimar.

Da cidade de Beja saiu o Lidador naquela manhã com trinta cavaleiros fidalgos e trezentos homens de armas, sabendo de antemão que o exército de Almoleimar era muitas vezes superior. Perto do meio-dia, pararam os cavaleiros para descansar perto de um bosque onde emboscados aguardavam os mouros. A primeira seta feriu de morte um guerreiro português, o que fez com que o exército cristão se pusesse em guarda.

Frente a frente se mediam a destreza e perícia árabes, invocando Allah, e a rudeza e força cristãs, clamando por Santiago. A batalha começou e ambos os exércitos se debateram com coragem, até que num dado momento Gonçalo Mendes e Almoleimar cruzaram espadas em cima dos seus cavalos. Um dos vários golpes desferidos atingiu Gonçalo Mendes que, mesmo ferido, atacou com raiva Almoleimar, que ripostou. O resultado foram dois golpes fatais, um dos quais matou o mouro e outro que deixou Gonçalo Mendes Maia ferido de morte.

O Lidador, moribundo, perseguiu com os seus homens os mouros que debandavam em fuga até que o esforço de um último golpe sobre um cavaleiro árabe lhe agravou os ferimentos. O Lidador caiu morto na terra juncada de mais de mil corpos inimigos.

Os cerca de sessenta cristãos sobreviventes celebraram com lágrimas esta última vitória do Lidador. Um sacerdote templário disse em voz baixa as palavras do Livro da Sabedoria: "As almas dos justos estão na mão de Deus e não os afligirá o tormento da morte".

LENDA DE OURÉM




Fátima, jovem e bela princesa moura, era filha única do emir, que a guardava dos olhos dos homens numa torre ricamente mobilada, tendo por companhia apenas as aias e, entre elas, a sua preferida e confidente Cadija.

Apesar de estar prometida a seu primo Abu, o destino quis que Fátima se apaixonasse pelo cristão que seu pai mais odiava, Gonçalo Hermingues, o "Traga-Mouros", o cavaleiro poeta que nas suas cavalgadas pelos campos via a bela princesa à janela da torre.

Rapidamente o coração do cavaleiro cristão se encheu daquela imagem e sabendo que a princesa iria participar no cortejo da Festa das Luzes, na noite que mais tarde seria a de S. João, preparou uma cilada de amor.

No impressionante cortejo de mouras e mouros, montando corcéis lindamente ajaezados, Fátima era vigiada de perto por Abu. De repente, os cristãos liderados pelo "Traga-Mouros" saíram ao caminho e Fátima viu-se raptada por Gonçalo. Mas Abu depressa se organizou e partiu com os seus homens em perseguição dos cristãos e a luta que se seguiu revelou-se fatal para o rico e poderoso Abu.

Como recompensa pelos prisioneiros mouros, Gonçalo Hermingues pediu a D. Afonso Henriques licença para se casar com a princesa Fátima, a que o rei acedeu com a condição que esta se convertesse.

A região que primeiro acolheu os jovens viria a chamar-se Fátima, mas a princesa, já com o nome cristão de Oureana, deu também o seu nome ao lugar onde se instalaram definitivamente, a Vila de Ourém.

SEMPRE NÃO



Um cavaleiro, casado com uma dama nobre e formosa, teve de ir fazer uma longa jornada: receando acontecesse algum caso desagradável enquanto estivesse ausente, fez com que a mulher lhe prometesse que enquanto ele estivesse fora de casa diria a tudo: – Não. 
Assim pensava o cavaleiro que resguardaria o seu castelo do atrevimento dos pajens ou de qualquer aventureiro que por ali passasse. 
O cavaleiro já havia muito que se demorava na corte, e a mulher aborrecida na solidão do castelo não tinha outra distracção senão passar as tardes a olhar para longe, da torre do miradouro.
 Um dia passou um cavaleiro, todo galante, e cumprimentou a dama: ela fez-lhe a sua mesura. 
O cavaleiro viu-a tão formosa, que sentiu logo ali uma grande paixão, e disse:

– Senhora de toda a formosura! Consentis que descanse esta noite no vosso solar?

Ela respondeu:

– Não!

O cavaleiro ficou um pouco admirado da secura daquele não, e continuou:

– Pois quereis que seja comido dos lobos ao atravessar a serra?

Ela respondeu:

– Não.

Mais pasmado ficou o cavaleiro com aquela mudança, e insistiu:

– E quereis que vá cair nas mãos dos salteadores ao passar pela floresta?

Ela respondeu:

– Não.

Começou o cavaleiro a compreender que aquele Não seria talvez sermão encomendado, e virou as suas perguntas:

– Então fechais-me o vosso castelo?

Ela respondeu:

– Não.

– Recusais que pernoite aqui?

– Não.

Diante destas respostas o cavaleiro entrou no castelo e foi conversar com a dama e a tudo o que ele lhe dizia ela foi sempre respondendo

– Não.

Quando no fim do serão se despediam para se recolherem aos seus quartos, disse o cavaleiro:

– Consentis que eu fique longe de vós?

Ela respondeu:

– Não.

– E que me retire do vosso quarto?

– Não.

O cavaleiro partiu, e chegou à corte, onde estavam muitos fidalgos conversando ao braseiro, e contando as suas aventuras. Coube a vez ao que tinha chegado, e contou a história do Não; mas quando ia já a contar a maneira como se metera na cama da castelã, o marido já sem ter mão em si, perguntou agoniado:

– Mas onde foi isso cavaleiro?

O outro percebeu a aflição do marido e continuou sereno:

– Ora quando ia eu a entrar para o quarto da dama, tropeço no tapete, sinto um grande solavanco, e acordo! Fiquei desesperado por se me  interromper um sonho tão lindo.

O marido respirou aliviado, mas de todas as histórias foi aquela a mais estimada.

A CASA SONOLENTA



Era uma vez uma casa sonolenta, onde todos viviam dormindo.Nessa casa tinha uma cama, uma cama aconchegante, numa casa sonolenta onde todos viviam dormindo.

Nessa cama tinha uma avó, avó roncando, numa cama aconchegante, numa casa sonolenta onde todos viviam dormindo.

Em cima dessa avó tinha um menino, um menino sonhando, em cima da avó roncando, numa cama aconchegante , numa casa sonolenta onde todos viviam dormindo.

Em cima desse menino tinha um cachorro, um cachorro cochilando, em cima do menino sonhando , em cima da avó roncando, numa cama aconchegante, numa casa sonolenta onde todos viviam dormindo.

Em cima desse cachorro tinha um gato, um gato ressonando, em cima de um cachorro cochilando, em cima de um menino sonhando, em cima de uma avó roncando, numa cama aconchegante, numa casa sonolenta onde todos viviam dormindo.

Em cima desse gato tinha um rato, um rato dormindo, em cima de um gato ressonando, em cima de um cachorro cochilando, em cima de um menino sonhando, em cima de uma avó roncando, numa cama aconchegante, numa casa sonolenta onde todos viviam dormindo.

Em cima desse rato tinha uma pulga...

Será possível? Uma pulga acordada, em cima de um rato dormindo, em cima de um gato ressonando, em cima de um cachorro cochilando, em cima de um menino sonhando,em cima de uma avó , numa cama aconchegante, numa casa sonolenta, onde todos viviam dormindo.

Uma pulga acordada, que picou o rato, que assustou o gato, que arranhou o cachorro, que caiu sobre o menino, que deu um susto na avó , que quebrou a cama, numa casa sonolenta onde ninguém mais estava dormindo.
AUDREY WOODY

Um mito aborígine astrauliano

Gavião

Há muitos, muitos anos, na primavera do universo, quando tudo o que existe na terra era jovem, duas irmãs caminhavam pelos campos cobertos de belíssimas flores.Saciavam a fome com as deliciosas raízes que tiravam da terra.


Certa vez, ao anoitecer, uma das meninas abaixou-se para colher uma flor que chamou a sua atenção por ser maior que todas as outras.

Ao observar as pétalas, viu estampada numa delas o rosto de um bébé .A carinha era tão bonita que a menina arrancou um pedaço de casca de árvore e com ele fez uma caixinha , onde guardou a flor.

Era como se a flor fosse o seu grande tesouro e ela quisesse protegê-lo.Pôs a caixa num galho de árvore e , todas as tardes,depois do passeio, ia vê-la.E não contou o segredo à irmã.

Acontece que lentamente a flor  se foi transformando num rapazinho que , a cada dia, ficava mais forte e saudável.O verão terminou.Com a chegada do outono, as noites começaram a arrefecer e a criança , a enfraquecer. O seu rosto ficou muito magrinho. A menina encontrou uma coberta feita de pele de animal e agasalhou o bébé-flor.

Um dia ela contou à irmã sobre o seu estranho filhinho. A irmã ficou muito feliz com a novidade. Juntas, cuidaram do rapazinho com toda a dedicação. Conforme ele foi crescendo, as duas ensinaram-no a falar, cantar, caçar e alimentar-se.

Quando se tornou um jovem, o menino transformou-se em Mulian, o gavião, e partiu voando pelos céus. Mas regressava sempre para visitar as suas mães, as irmãs que o haviam recolhido do campo florido. 
Ao sentir que já estava velhinho, converteu-se numa estrela do céu para continuar a iluminar as crianças que, como as duas mães-meninas, amam e protegem as flores da terra.


Gavião

A MENINA DOS FÓSFOROS


Fazia um frio terrível; caía a neve e estava quase escuro; a noite descia: a última noite do ano. No meio do frio e da escuridão uma pobre menina, de pés descalços e cabeça descoberta, caminhava pelas ruas.

Quando saiu de casa trazia chinelos; mas de nada adiantavam, eram chinelos tão grandes para os seus pequenos pés, eram os antigos chinelos de sua mãe.
A menina perdera-os quando escorregara na estrada, onde duas carruagens passaram terrivelmente depressa.
Um dos chinelos nunca mais o encontrou, e um menino apoderara-se do outro e fugira a correr. Depois disso a menina caminhou de pés nus - já vermelhos e roxos de frio. 
No bolso do velho avental trazia alguns fósforos, e um molhinho deles na mão. Ninguém lhe comprara nenhum naquele dia, e ela não ganhara sequer um níquel.
Tremendo de frio e fome, lá ia quase de rastos a pobre menina, verdadeira imagem da miséria! Os flocos de neve  cobriam-lhe os longos cabelos, que lhe caíam sobre o pescoço em lindos cachos; mas agora ela não pensava nisso.
Luzes brilhavam em todas as janelas, e  um delicioso cheiro de ganso assado enchia o ar, pois era véspera de Ano-Novo.
Sim: nisso ela pensava!
Numa esquina formada por duas casas, uma das quais avançava mais que a outra, a menina ficou sentada; levantara os pés, mas sentia um frio ainda maior.
Não ousava voltar para casa sem vender sequer um fósforo e, portanto sem levar um único tostão.
O pai naturalmente espancá-la-ia e, além disso, em casa fazia frio, pois nada tinham como abrigo, excepto um telhado onde o vento assobiava através das frinchas maiores, tapadas com palha e trapos.
Suas mãozinhas estavam duras de frio.
Ah! bem que um fósforo lhe faria bem, se ela pudesse tirar só um do embrulho, riscá-lo na parede e aquecer as mãos à sua luz!
Tirou um: trec! O fósforo lançou faíscas, acendeu-se. Era uma cálida chama luminosa; parecia uma vela pequenina quando ela o abrigou na mão em concha...
Que luz maravilhosa!
Com aquela chama acesa a menina imaginava que estava sentada diante de um grande fogão polido, com lustrosa base de cobre. Como o fogo ardia! Como era confortável!
Mas a pequenina chama  apagou-se, o fogão desapareceu, e ficaram-lhe na mão apenas os restos do fósforo queimado.
Riscou um segundo fósforo. Ele ardeu, e quando a sua luz caiu em cheio na parede ela tornou-se transparente como um véu de gaze, e a menina pôde ver a sala do outro lado. Na mesa estendia-se uma toalha branca como a neve e sobre ela havia um brilhante serviço de jantar. O perú assado fumegava maravilhosamente, recheado de maçãs e ameixas pretas. Ainda mais maravilhoso era ver o perú saltar da travessa e sair bamboleando-se na sua direcção, com a faca e o garfo espetados no peito! Então o fósforo  apagou-se, deixando à sua frente apenas a parede áspera, húmida e fria.
Acendeu outro fósforo, e a menina  viu-se sentada debaixo de uma linda árvore de Natal. Era maior e mais enfeitada do que a árvore que tinha visto pela porta de vidro do rico comerciante. Milhares de velas ardiam nos verdes ramos, e cartões coloridos, iguais aos que se vêem nas papelarias, estavam voltados para ela. A menina estendeu a mão para os cartões, mas nisso o fósforo apagou-se. 
As luzes do Natal subiam mais altas. Ela via-as como se fossem estrelas no céu: uma delas caiu, formando um longo rastilho de fogo.
"Alguém está a morrer", pensou a menina, pois sua avozinha, a única pessoa que amara e que agora estava morta,  dissera-lhe que quando uma estrela cai, uma alma subia para Deus.
Ela riscou outro fósforo na parede; ele  acendeu-se e, à sua luz, a avozinha da menina apareceu clara e luminosa, muito linda e terna.
- Avó! - exclamou a criança. - Oh! leva-me contigo! Sei que desaparecerás quando o fósforo se apagar! Dissipar-te-ás, como as quentes chamas do fogo, a comida fumegante e a grande e maravilhosa árvore de Natal!
E rapidamente acendeu todo o feixe de fósforos, pois queria reter diante da sua vista a sua querida avó. E os fósforos brilhavam com tanto fulgor que iluminavam mais que a luz do dia. 
A  sua avó nunca lhe parecera tão grande e tão bela. Pegou a menina nos braços, e ambas voaram em luminosidade e alegria acima da terra, subindo cada vez mais alto para onde não havia frio nem fome nem preocupações - subindo para Deus.
Mas na esquina das duas casas, encostada na parede, ficou sentada a pobre menina de rosadas faces e boca sorridente, que a morte enregelara na derradeira noite do ano velho.
O sol do novo ano levantou-se .
A criança ali ficou, paralisada, junto a um feixe inteiro de fósforos queimados.
- Queria aquecer-se - diziam os que passavam.
Porém, ninguém imaginava como era belo o que estavam vendo, nem a glória para onde ela se fora com a avó e a felicidade que sentira naquela noite de Ano­ Novo.
Hans Christian Andersen

O Pintor do Céu

Há muito tempo, vivia no Sul da China, uma velho pintor de muito talento. O que ele mais gostava de retratar eram rostos de crianças . Toda a semana pintava sete carinhas diferentes, uma para cada dia.
Certa noite, enquanto o velho pintor trabalhava , caiu uma tempestade horrível, mas ele estava tão entretido em fazer o retrato de uma linda menina que nem percebeu que à sua porta surgira uma misteriosa figura.
Ela atravessou a sala e quando chegou ao seu lado disse:
Eu sou a morte e preciso levá-lo hoje comigo.
O velho, porém não ficou assustado.Pelo contrário, continuou a pintar , respondendo apenas:
Morte, por favor, diga ao senhor do céu que estou ocupado e não posso partir sem terminar minha pintura.
Surpreendida com a atitude do pintor a morte aproximou-se do quadro. Ficou paralisada. O rosto que ele pintava era tão lindo e vivo que parecia sorrir. Emocionada a morte foi-se embora. Quando chegou ao céu , o Senhor lhe perguntou:
Morte , o que aconteceu? Você voltou sozinha?
Senhor perdoe-me , mas não consegui interromper o velho pintor, ele estava pintando um rosto tão lindo… - respondeu-lhe a morte
O senhor do céu ficou muito zangado e disse que ela não deveria ter-lhe desobedecido e que deveria ir buscar o velhinho pintor pois era a hora dele.
E a morte voltou a casa do pintor e ficou novamente paralisada.
Os quadros do velhinho eram tão lindos que ela não queria que ele parasse de trabalhar; porém desta vez ,não poderia falhar e pediu ao pintor que ele levasse os seus materiais de pintura e o quadro que estava a pintar e  que a acompanhasse.
Quando o Senhor do céu viu o velhinho e os seus quadros compreendeu a atitude da morte e disse:
Meu velho e sábio mestre, soube que na terra era pintor…pois bem, vou permitir que continue a trabalhar no céu.
E foi assim que o pintor se instalou no maravilhoso palácio celeste junto com o espírito da vida.
Cada vez que o espírito da vida desejava fazer nascer uma criança chamava o pintor para que ele criasse um lindo rosto.

 E é por isso que até hoje todas as crianças são belas trazendo em suas pequenas faces o toque mágico do eterno pintor chinês, o pintor do reino dos céus.

Conto tibetano

Corre corre cabacinha....


Era uma vez uma velhinha que vivia só, na sua casinha da aldeia. Certo dia, recebeu uma carta da sua neta, que vivia numa terra distante. A carta trazia-lhe uma grande alegria – a neta ia casar-se e convidava a avozinha para assistir ao seu casamento. 

Tão contente ficou que imediatamente se pôs a caminho para não chegar atrasada. Depois de ter andado alguns quilómetros, surgiu à sua frente um grande lobo que lhe disse numa voz rouca:
--Ai, velhinha, que eu como-te! 

-Ai, não me comas, que eu estou muito magrinha. 

Vou ao casamento da minha neta e, quando de lá voltar, já venho mais gordinha! 
-Está bem na volta cá te espero! - respondeu o lobo e deixou-a seguir caminho.
 Lá mais adiante, surgiu-lhe na frente um urso, que, pousando-lhe as patas nos ombros, lhe disse ao ouvido:
-Ai, velhinha, que eu como-te! 
-Ai, não me comas, que eu estou muito magrinha. Vou ao casamento da minha neta e, quando de lá voltar, já venho mais gordinha!
 Tal como o lobo, o urso achou que a velhinha tinha razão e deixou-a seguir viagem, dizendo: 
-Está bem na volta cá te espero! 
Já quase no fim da viagem, uma terceira fera apareceu à velhinha – era um leão. 
-Ai, velhinha, que eu como-te! 
-Ai, não me comas, que eu estou muito magrinha. Vou ao casamento da minha neta e, quando de lá voltar, já venho mais gordinha!

O leão também achou que era melhor esperar que ela voltasse mais gordinha. Então disse-lhe:
-Está bem na volta cá te espero! 

Muito assustada a velhinha continuou o seu caminho até que chegou, por fim a casa da neta. Contou tudo o que lhe acontecera e a neta acalmou-a dizendo que não haveria problema nenhum.

O casamento foi muito bonito e a velhinha estava muito feliz. Mas, quando se decidiu a voltar para a sua casa, começou a ficar com muito medo. A neta correu ao quintal, cortou a cabaça maior e mais redondinha que lá tinha abriu-lhe uma pequena porta e a velhinha entrou nela.

A neta voltou a fechar a cabaça. Então a viagem começou quando a cabaça e a velhinha rebolavam estrada fora . A certa altura passaram ao pé do leão, que perguntou: 
- Oh cabacinha não viste para aí uma velhinha?
A velhinha de dentro da cabacinha respondeu:
-Não vi velhinha, nem velhão Corre corre cabacinha Corre corre cabação!!!
O leão fez cara de admirado! A cabacinha continuou rebolando pela estrada fora. Um pouco mais à frente estava o urso, esperando. Este resolveu perguntar:
-Oh cabacinha não viste para aí uma velhinha? De dentro da cabacinha, a mesma voz respondeu:
-Não vi velhinha, nem velhão Corre corre cabacinha Corre corre cabação!!! A cabacinha continuou rebolando, rebolando, sempre a toda a pressa. 

O urso não percebeu nada do que via e ouvia… Mais perto de casa estava o lobo esfomeado. Ao ver a cabacinha perguntou-lhe:
-Oh cabacinha não viste para aí uma velhinha? De dentro da cabacinha a voz da velhinha fez-se ouvir:
-Não vi velhinha, nem velhão Corre corre cabacinha Corre corre cabação!!!

O lobo pulou de raiva. Finalmente a nossa velhinha chegou a casa. Não havia mais perigos. Pela estrada fora tinham ficado, enganados, os seus três inimigos. A cabacinha salvara-lhe a vida.
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