Numa aldeia de Barcelos, havia um casal que
andava sempre à bulha, porque a mulher era muito teimosa.
Um dia, o homem trouxe para casa um queijo que
comprou na vila, e, ao jantar, pô-lo na mesa e pediu à mulher uma faca para o
cortar, mas a mulher, em vez de lhe trazer a faca, trouxe-lhe uma tesoura.
— Esta é boa! disse o homem — Como é que eu posso cortar o queijo
com a tesoura? Foi coisa que nunca se viu!
— Pois o queijo sempre se cortou com a
tesoura — disse a mulher.
— Que disparate! Com a faca é que sempre
se cortou.
— Pois é com a tesoura! — teima ela.
—É com a faca, mulher!
E questionaram os dois por algum tempo, até que o
homem, farto da teimosia, bateu na mulher, e perguntou em seguida:
— Então é com a faca, ou não?
— É com a tesoura, já disse! — teimou a mulher, apesar da coça
que levara.
O homem enfureceu-se tanto, que, perdendo a
cabeça, agarrou na mulher e foi a correr deitá-la ao rio, o Cávado por sinal.
A mulher, que não sabia nadar, foi logo ao fundo
como um prego, e o homem, ao vê-la desaparecer, ainda lhe disse cá de cima:
— Diz lá agora com que é que se corta o
queijo! E viu-se então a mão
da mulher aparecer por fora da água e mexer dois dedos, como a dizer que era
com a tesoura.
Nem naquela altura deixou de teimar.
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