Era
uma vez um macaco que estava em cima de uma oliveira a comer uma romã; sucedeu
que caiu um grão da romã para a terra em que estava a oliveira e, passado pouco
tempo, nasceu uma romãzeira.
Quando
o macaco viu a romãzeira nascida, foi-se ter com o dono da oliveira e
disse-lhe:
“Arranca
a tua oliveira para crescer a minha romãzeira!”
Responde
o homem: “Não estou para isso!”
Foi-se
o macaco ter com a justiça e disse-lhe: “Justiça, prende o homem para que
arranque a oliveira para crescer a minha romãzeira!”
Responde
a justiça: “ Não estou para isso!”
Foi-se
o macaco ter com o rei e disse-lhe:”Rei, tira a vara à justiça, para ela
prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde
o rei: “ Não estou para isso!”
Foi
o macaco ter com a rainha: “ Rainha, põe-te mal com o rei, para ele tirar a
vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para
crescer a minha romãzeira!”
Responde
a rainha: “ Não estou para isso!”
Foi-se
ter com o rato:”Rato, rói as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei,
para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a
oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde
o rato: “Não estou para isso!”
Foi
ter com o gato: “ Oh gato, come o rato, para ele roer as camisas à rainha para
ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o
homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde
o gato:”Não estou para isso!”
Foi-se
ter com o cão:”Oh cão, morde o gato, para ele comer o rato , para ele roer as
camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à
justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a
minha romãzeira!”
Responde
o cão:” Não estou para isso!”
Foi
ao pau e disse-lhe: Pau, bate no cão, para o cão morder o gato, para ele comer
o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para
ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a
oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde
o pau:”Não estou para isso!”
Foi
ter com o lume: “Oh lume, queima o pau, para ele bater no cão, para o cão
morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para
ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o
homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
“Responde
o lume: “ Não estou para isso!”
Foi
ter com a água:”Oh água, apaga o lume, para ele queimar o pau, para ele bater
no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as
camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à
justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a
minha romãzeira!”
A
água responde: “ Não estou para isso!”
Foi
ter com o boi: “Oh boi, bebe a água para ela apagar o lume, para ele queimar o
pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato ,
para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele
tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira,
para crescer a minha romãzeira!”
O
boi responde: “Não estou para isso!”
Foi
ter com o carniceiro: “ Oh carniceiro, mata o boi para ele beber a água, para
ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão
morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para
ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o
homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde
o carniceiro: “ Não estou para isso!”
Foi
ter com a morte:” Oh morte, leva o carniceiro, para ele matar o boi, para ele
beber a água, para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no
cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas
à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para
ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha
romãzeira!”
A
morte disse que sim. A morte ia levar o carniceiro e ele disse:lhe: “Não me
leves que eu mato o boi!”
Disse
o boi: “Não me mates que eu bebo a água!”
Disse
a água:”Não me bebas que eu apago o lume!”
Disse
o lume:” Não me apagues que eu queimo o pau!”
Disse
o pau: “Não me queimes que eu bato no cão!”
Disse
o cão:”Não me batas que eu mato o gato!”
Disse
o gato:Não me mordas que eu como o rato!”
Disse
o rato:” Não me comas que eu roo as camisas à rainha!”
Disse
a rainha: “ Não me roas as camisas que eu ponho-me de mal com o rei!”
Disse
o rei:”Não te ponhas de mal comigo que eu tiro a vara à justiça!”
Disse
a justiça: “ Rei não me tires a vara que eu prendo o homem!”
Disse
o homem: “Justiça, não me prendas que eu arranco a oliveira!”
E
o homem arrancou a oliveira e o macaco ficou com a sua romãzeira.
FIM
Contos
Populares Portugueses, Adolfo Coelho, Ed Leya, (pág.53-54)
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