GUIMI E GUIOMAR
Era uma vez um homem muito pobrezinho e
que tinha uma filha tão bonita como bondosa. Viviam num pobre casebre lá no
meio da floresta. O homem era lenhador, e vivia de carradas de lenha que
apanhava na floresta e depois vendia na cidade. Ora, numa dessas voltas pela
floresta, já no regresso a casa com a carroça carregada de lenha, ao passar um
ribeirinho, enterra-se a carrada na lama, e como os animais já eram muito
velhotes já não tinham forças para puxar o carro e tirá-lo do atoleiro, o homenzinho começou a dizer:
– Ai valha-me Deus! Valha-me Deus!
Valha-me Deus que a minha carrada de lenha não se tira da lama!
Tanto pediu por Deus, tanto pediu que,
ao ver que este não lhe acudia nas suas aflições, zangou-se e disse então:
– Ora!... Valha-me o Diabo!...
Assim que acabou de dizer isso,
apareceu-lhe logo o Diabo, que lhe perguntou:
– Chamaste-me? E porque é que precisas
de mim?
– Chamei sim! – disse o homem muito
receoso – É que tenho aqui a minha carrada de lenha atolada na lama e não a
consigo tirar. E uma vez que Deus não me acudia, chamei então pelo senhor
Diabo.
– Então olha! – disse-lhe o Diabo – Eu
tiro-te a carrada da lama mas só com a condição de me dares o primeiro ser vivo
que vier ao teu encontro ao chegares a casa.
O homenzinho pensou para consigo:
– Oh! O que vem sempre primeiro ter
comigo quando chego a casa é o cão... Está bem! Está combinado! – disse para o
Diabo.
E o Diabo, depois de, por artes
mágicas, ter tirado a carrada da lama ao lenhador, abalou todo satisfeito.
E o lenhador, também todo contente, ia
pensando para consigo:
– Ora, pensas-te esperto, mas desta vez
foste levado!...
E dito isto, lá foi andando, a caminho
de casa porque era já quase sol-posto, e na floresta ao sol-posto é
praticamente de noite. Quando chegou quase à vista da sua casa, com grande
espanto viu vir ao seu encontro a sua filha, Guiomar, e não o cão como era
costume todos os dias. A filha já vinha em cuidado porque o pai estava a
demorar-se mais do que o hábito, com a carrada da lenha da floresta. E o pai,
ficou muito aflito e muito triste, e contou-lhe:
– Oh! filha, então tu logo vieste hoje
ter comigo e eu prometi isto assim e assim ao Diabo!...
E diz-lhe ela:
– Ora deixe meu pai, não se preocupe, a
esta hora já ele se esqueceu com certeza e nunca mais se irá lembrar disso.
Deixe lá e não se apoquente, que ele vai esquecer-se...
Bem, o pobre homem conformou-se e lá
foi para casa, disposto a esquecer-se do que tinha acontecido.
Passados uns dias, já ele não se
lembrava do que lhe tinha sucedido, aparece-lhe novamente o Diabo na floresta a
perguntar-lhe se ele sempre cumpria a promessa que lhe tinha feito.
O homem, coitado, todo aflito lá foi
para casa e disse à filha:
– Oh filha, então o Diabo não veio ter
comigo outra vez?!... E quer que tu vás para casa dele!...
– Ora deixe meu pai, agora vou, e
depois, em podendo, fujo e venho cá para casa do pai outra vez.
E vai daí, o bom do lenhador teve de ir
levar a filha à casa do Diabo. Foi levá-la, e ela lá ficou...
E durante muitos anos ficou a Guiomar
vivendo na companhia do Diabo. Este tinha duas filhas, tão más como ele e elas
sabiam de artes mágicas que trataram de ensinar a Guiomar.
Ora, um certo dia, foram todas três
tomar banho a uma lagoa, lá no meio do campo, como faziam muitas vezes. E iam
para a lagoa transformadas em pombinhas, e uma vez lá transformavam-se
novamente em meninas para poderem tomar banho.
E chegaram junto da água,
transformaram-se em raparigas e começaram a brincar e a tomar banho todas
satisfeitas. Estavam elas numa grande algazarra que nem deram pela aproximação
cuidada de um Príncipe que andava a caçar, e se tinha desviado um pouco mais do
seu caminho habitual. Assim que viu as três moças lá na lagoa ficou encantado
com a Guiomar, e então o que fez ele? Vá de esconder a roupa dela. As meninas
quando acabaram o banho e se vinham vestir as três, deram conta da falta das
roupas da Guiomar. E ela ficou toda atrapalhada:
– Ai, então a minha roupa? O que é
feito dela?
Nisto, o rapaz que estava escondido a
observar a cena, disse em voz alta:
– Está aqui!
As outras raparigas assustaram-se e
abalaram logo transformadas em pombas. Mas Guiomar não poderia transformar-se
em pomba enquanto não tivesse a roupa. E então, o Príncipe, vendo-a grande
atrapalhação da menina, disse-lhe calmamente:
– Então fique aí atrás dessa pedra, que
eu dou-lhe a roupa.
E assim foi, e a menina vestiu-se e
perguntou-lhe quem era e o que fazia ali, concerteza tão longe de casa.
E ele respondeu-lhe que era o Príncipe
Guimi e que andava à caça, e que tinha gostado muito dela e que queria casar-se
com ela, se fosse do seu agrado. E ela respondeu-lhe que não podia casar com
ele porque estava em casa do Diabo e contou-lhe a história do pai e da carrada
de lenha e de tudo o que daí tinha sucedido de seguida. Respondeu-lhe ele:
– E então como é que eu agora vou
conseguir salvar-te da casa do Diabo?
Respondeu-lhe Guiomar:
– Olha, tu vais lá, à casa do Diabo e
dizes que queres casar comigo, mas ele vai dificultar-te a coisa com certeza. E
então tu, quando estiveres aflito, chamas por Guiomar: “Valha-me a Guiomar!”,
deixa que eu logo apareço.
E assim foi. Ele foi-se embora, e ela
abalou também, transformada em pomba, abalou e ele foi lá ter a casa do Diabo
para lhe dizer que gostava de casar com a Guiomar.
Respondeu-lhe o Diabo:
–Está bem, mas com uma condição: eu
agora dou-te este saco de trigo e tu vais ao campo semeá-lo, ceifá-lo,
debulhá-lo, e levá-lo a um moinho. E depois tens que fazer um moinho, moer o
trigo, cozer o pão e ainda hoje à noite eu quero comer desse pão!
Responde-lhe o príncipe assim:
– Ah! Senhor, mas isso é impossível.
– Não sei!... Só assim é que te dou a
mão da minha filha. E agora podes ir embora. – Disse-lhe o Diabo.
E ele abalou e foi para o campo,
sentou-se numa pedra e começou a chorar:
– Ah, que triste vida a minha, nunca
irei conseguir casar-me com a Guiomar.
E às tantas lembra-se das palavras da
menina e diz:
– Valha-me a Guiomar!
E ela apareceu-lhe logo.
– Então o que foi?
E lá lhe esteve ele a contar o que
tinha sucedido. Esteve-lhe a contar o que o Diabo lhe tinha dito. Tinha que
fazer aquelas coisas todas ao trigo até levar o pão para o Diabo comer.
Ela diz-lhe assim:
– Deixa lá! Encosta lá a cabeça aqui no
meu colo e dorme, e deixa o caso comigo.
E ele assim fez: encostou a cabeça ao
colo dela, deixou-se dormir e lá para as tantas ela acordou-o e disse-lhe:
– Olha, já podes ir levar o pão ao meu
pai, já aqui está.
Bem, ele lá foi todo satisfeito, chegou
lá a casa do Diabo e disse-lhe:
– Olhe, já aqui está o pão que o Senhor
Diabo pediu, para fazer do trigo, semear, ceifar, moer, cozer... já aqui está!
– Hum! Cheira-me aqui a obra de
Guiomar! – disse o Diabo.
– Ah! Não, Senhor Diabo! Nem eu conheço
a Guiomar nem a Guiomar me conhece a mim! – respondeu o Príncipe.
– Bem! Nesse caso ainda há outra prova
para fazeres: agora vais ao campo, lá a uma quinta que eu tenho, abres um poço
e hoje ainda quero beber água desse poço. – voltou a dizer o Diabo para ver se
o rapaz desistia.
E lá abalou outra vez o Príncipe de
orelha murcha. Abalou para lá e começou novamente a lamentar-se mas já não
chorou. Chamou logo pela Guiomar:
– Valha-me a Guiomar!
E a Guiomar apareceu-lhe logo.
– Então agora é o quê? – pergunta-lhe
ela.
– Olha, agora quer que eu vá fazer um
poço. Abrir o buraco, fazer o bordo e ainda quer hoje à noite beber água fresca
do poço. – conta-lhe o Príncipe.
– Está bem, olha, faz o mesmo,
deitas-te aqui no chão, encostas a cabeça ao meu colo e deixa o caso comigo. –
disse-lhe Guiomar.
E ele assim fez. Passado tempo diz-lhe
ela assim:
– Vá, podes acordar e toma já aqui a
bilha, que é para levares a água fresca ao meu pai.
E ele assim fez. Tirou a água do poço,
encheu a bilha e lá foi levar a água ao Diabo, à noitinha.
O rapaz chegou-se ao pé do Diabo e
disse-lhe:
– Olhe, Senhor Diabo, aqui está a água
que me pediu esta manhã.
– Hum! Aqui anda obra de Guiomar. –
resmungou o Diabo.
E apressou-se a responder o rapaz:
– Ó Senhor, já lhe disse, nem eu
conheço a Guiomar, nem a Guiomar me conhece a mim.
O Diabo, muito desconfiado, volta-se
para o Príncipe e diz-lhe:
– Bem, ainda falta outra prova. A o fim
das três provas então é que pode ser que te dê a Guiomar.
– Então diga lá qual é a outra prova
que falta. – respondeu já mais afoito o rapaz.
E começa o Diabo:
– Olha, tens aqui este cacho de uvas.
Levas este cacho de uvas e hás-de comer o cacho, semeias as uvas e quero a
vinha a crescer, semeada, crescida e depois, com as uvas feitas, fazes o vinho
e hoje ao jantar ainda quero beber desse vinho.
– Ó Senhor Diabo, isso é que eu não
consigo concerteza.
– Não sei, – responde-lhe o Diabo – ou
fazes isso, ou então ficas sem a Guiomar.
E o bom do rapaz foi outra vez para o
campo e chegou lá, chamou logo a Guiomar. E depois esteve-lhe a explicar o que
é que o Diabo queria que ele fizesse.
No fim, diz-lhe ela assim:
– Bem, faz o mesmo que das outras vezes
e deixa o caso comigo.
Deitou outra vez a cabeça no colo dela,
e ela ao fim de um tanto tempo, disse-lhe assim:
– Pronto! Aqui tens esta garrafa, vai
enchê-la, porque já está o vinho feito.
E ele assim fez. Encheu a garrafa, e à
noitinha foi levá-la ao Diabo. Este ficou todo zangado, e gritou-lhe:
– Olha, eu já ando desconfiado que isso
não são coisas tuas. São coisas da Guiomar!
E o rapaz volta a dizer-lhe:
– Ó Senhor, não Senhor Diabo, nem eu
conheço Guiomar, nem Guiomar me conhece a mim. Isto fui eu que fiz.
– Então está bem – responde-lhe o Diabo
–, amanhã de manhã vem cá que é para escolheres das minhas três filhas, uma.
– Ah, mas eu quero é a Guiomar –
diz-lhe o rapaz aflito.
– Só te dou aquela cujo dedo tu
escolheres e que aparecer pelo buraco da fechadura. Aquela que tu escolheres é
que casará contigo.
E o príncipe foi logo dizer à Guiomar o
que o Diabo lhe tinha dito. E ela disse-lhe:
– Olha, não te apoquentes. Aquele dedo
que tiver uma pintinha de sangue, é o meu dedo e esse tu o escolherás. E assim,
escolhes-me a mim.
E ela assim fez. O Diabo pôs os dedos
das suas três filhas, à vez, no buraco da fechadura da porta, que era para ele
escolher uma das três. E Guiomar pôs uma pintinha de sangue no seu dedo. E o
príncipe escolheu o dedo da pinta de sangue, escolheu a Guiomar.
O Diabo ficou ainda mais zangado e
disse-lhe:
– Amanhã de madrugada vem cá que eu
dou-ta. Eu dou-te a Guiomar para tu a levares.
E o rapaz foi contar à Guiomar tudo o
que tinha acontecido. E Guiomar disse-lhe:
– Olha, o Diabo não me vai dar, vai-te
dar uma das filhas dele, mas nós fugimos antes dele acordar.
E combinaram encontrar-se de madrugada.
E diz o Príncipe à menina quando se
encontram:
– Ele agora está a dormir e nós como
vamos fugir, sem ele dar por isso?
E responde-lhe Guiomar:
– Tu vais às cavalariças buscar um
cavalo. Mas olha, estão lá dois cavalos: um que corre como o vento e outro que
corre como o pensamento. E tu trazes o mais magro, que é o que corre como o
pensamento. Percebeste bem? Olha que é o segundo cavalo. O segundo é que tu
trazes.
– Está bem, eu vou já buscá-lo. –
Respondeu o Príncipe.
E ele foi. Foi à cavalariça e, quando
entra os cavalos começaram a misturar-se uns com os outros, muito espantados de
o ver lá, porque não o conheciam. E ele apanhou um cavalo e levou-o para junto
da Guiomar.
E diz-lhe ela:
– Ah, que não é este cavalo o que
deverias ter trazido!...
E disse outra vez para o rapaz:
– Olha, vai lá outra vez às cavalariças
e traz o cavalo mais magrinho que lá esteja. Não te esqueças que é o mais
magrinho.
E ele respondeu-lhe:
– Está bem. Está bem.
E lá foi novamente para junto dos
cavalos. Ao chagar lá, viu o cavalo mais magrinho, mas achou-o tão magrinho e
viu o outro tão bom, que escolheu o outro e, não fazendo caso da recomendação
de Guiomar, escolheu o cavalo mais forte.
E quando chegou ao pé de Guiomar ela
disse-lhe assim:
– Então eu não te disse para trazeres o
mais magro?
– Ah, mas o outro era tão magrinho que
concerteza não podia com a gente os dois. – responde o Príncipe.
– Podia muito bem sim senhor. Esse é
que é o mais leve e mais rápido que o pensamento. Deixa, olha, agora já não
temos tempo para o ir trocar, porque o meu pai está a levantar-se. Agora já não
temos tempo, e vamos já correndo com este. – Resolveu a menina.
Montaram-se os dois no cavalo e lá
foram correndo, correndo como o vento. Quando iam já lá muito longe, diz
Guiomar assim:
– Ai, que lá vem o Diabo. Já ouço o seu
cavalo!
– E agora o que havemos de fazer? –
pergunta o Príncipe.
E diz-lhe Guiomar:
– Olha, desce-te já. O cavalo faz-se
num rio, eu faço-me no barco e tu fazes-te no barqueiro. E quando o meu pai te
perguntar se viste alguém passar por aqui, tu fazes-te desentendido, está bem?
E assim fizeram. E quando eles acabaram
de fazer isso, aparece o Diabo. E diz assim para o barqueiro:
– Ó senhor barqueiro, viu passar por
aqui uma menina num cavalo e um homem também montado no cavalo?
E responde-lhe o barqueiro, fingindo-se
desentendido:
– Então, se quiser passar, passe. Cada
passagem é um vintém.
– Não senhor. Não foi isso que eu
perguntei. – diz-lhe o Diabo. – O que eu queria saber era se tinha passado por aqui uma menina num
cavalo e um homem também montado no cavalo?
E responde-lhe o Príncipe, disfarçado
em barqueiro:
– Já lhe disse. E o cavalo também pode
passar. Cabe tudo no barco. É um vintém cada um.
E o Diabo, já zangado com as respostas,
grita para o barqueiro:
– Não é isso o que eu quero saber.
Olhe, o senhor está mas é maluco e eu vou-me já embora...
E então lá abalou o Diabo. E assim que
ele desapareceu lá ao longe, eles desfizeram-se outra vez em cavalo, cavaleiro
e cavaleira e lá foram correndo outra vez, correndo, correndo, correndo... E lá
muito adiante, diz outra vez Guiomar:
– Ai, que aí vem outra vez o Diabo. Já
o estou a sentir lá ao fundo. E vá de se desmontarem outra vez. E o Príncipe
fez-se desta vez em hortelão, o cavalo fez-se em horta e Guiomar fez-se nas
hortaliças. E chega lá o Diabo ao pé do hortelão e disse-lhe assim:
– Ó senhor hortelão, viu passar por
aqui um cavalo com uma menina e um homem montados?
E responde-lhe o rapaz:
– Sim, Senhor, tenho cebolas, tenho
couves, tenho alfaces... tenho de tudo.
– Não é isso que eu quero saber. O que
eu quero saber é se viu passar por aqui um cavalo com uma menina e um homem
montados?! – perguntou outra vez o Diabo.
E de novo o rapaz, feito em hortelão,
lhe responde:
– Sim, Senhor, as couves são a tanto,
os repolhos a tanto, as cenouras são outro tanto, cada coisa tem o seu preço. E
olhe que são todos fresquinhos, acabados de colher.
E o Diabo cada vez mais zangado
diz-lhe:
– Não é isso que eu lhe quero
perguntar, o que eu queria saber era se tinha passado por aqui um cavalo com
uma menina e um homem montados?!
E o Príncipe, outra vez:
– Olhe, já lhe disse, se o Senhor
quiser levar a hortaliça, leva, se não quiser, não leva. O preço foi o que eu
lhe disse.
E o Diabo já nem lhe disse nada, de tão
fulo que estava. Voltou-lhe as costas e foi-se embora.
Assim que ele abalou, Guimi e Guiomar
voltaram a montar no cavalo e lá foram outra vez correndo, correndo, correndo o
mais que podiam. Mas o Diabo tinha o cavalo que corria como o pensamento,
corria muito mais depressa do que o deles. E quando lá chegaram mais à frente,
diz Guiomar assim:
– Ai, aí vem ele outra vez, o Diabo.
Vá de se desmontarem outra vez e
transformaram-se novamente: o cavalo fez-se numa igreja, o Príncipe fez-se em
sacristão e a Guiomar em santa do altar. E quando chegou lá o Diabo, perguntou
ao sacristão:
– Então o Senhor não viu por aqui
passar um cavalo com uma menina e um homem montados?!
Responde-lhe o sacristão:
– Olhe, a missa é às dez horas.
E o Diabo diz-lhe:
– Não é isso o que eu lhe estou a
perguntar. Eu estou-lhe é a perguntar se não passou por aqui um cavalo com uma
menina e um homem montados?!
E diz-lhe o sacristão:
– Olhe, eu não sei o que o Senhor está
para aí a dizer, mas vá perguntar à santa do altar porque pode ser que ela lhe
saiba dizer qualquer coisa.
E o Diabo, muito contrariado, assim
fez. Aproximou-se do altar, olhou para a santa e perguntou-lhe:
– Olhe lá, vossemecê não terá dado conta
de passarem por aqui um cavalo com uma menina e um homem montados?!
Guiomar que já estava à espera, pega na
caldeirinha de água benta e salpica-o com uma boa porção.
O Diabo que não estava à espera disso
dá um grande estouro e desaparece sem deixar rasto e nunca mais ouviram falar
dele naquelas redondezas.
Depois de se terem transformado
novamente em Guimi e Guiomar, os dois foram buscar o pai de Guiomar que ainda
morava na casinha da floresta, e depois foram todos para o reino do Príncipe
onde viveram muito felizes muitos e muitos anos.
[Rui Arimateia, recolha da Tradição Oral do
Alentejo, em Casa Branca, Sousel]
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