Era
uma vez um lavrador e uma lavradora, que viviam num monte e precisavam dum
rapaz para o seu serviço. Um dia, a lavradora, olhando para o seu marido,
diz-lhe: -“ Tu devias ir à aldeia concertar um rapaz para nos aviar os
mandados, ir ao mato e ao poço e guaradr os porcos.”
-“Pois
bem, irei amnhã à aldeia tratar disso” – respondeu o lavrador
-“Vai,
mas não me tragas algum que se chame Pedro. De modo nenhum quero Pedros cá em
casa...”
No
dia seguinte, o lavrador foi à aldeia, e assim que lá chegou encontrou-se com
um rapaz a quem perguntou:
-“Oh
rapaz queres concertar-te? (trabalhar?)”
-“Quero,
sim senhor.”
-
“Como te chamas?”
-“Pedro”
-“Oh
diabo, não me serves.”
Dizendo
isto o lavrador dirigiu-se para outra rua. E o Pedro das malas-Artes foi
imediatamente colocar-se a uma esquina, por onde ele sabia que o lavrador havia
de passar. O lavrador, ao passar por esse sítio, vendo ali o rapaz, e não
percebendo que era o mesmo rapaz de à pouco, diz-lhe:
-“Oh
rapaz, queres trabalhar?”
-“
Quero sim senhor”
-“
Então como te chamas?”
-“Pedro.”
-Oh
diabo, não me serves.”
O
lavrador, passando por outra rua, encontrou-se novamente com o Pedro, que já o
esperava disfarçadamente. E, cuidando que era outro rapaz, diz-lhe:
_”-“Oh
rapaz, queres trabalhar?”
-“
Quero sim senhor”
-“
Então como te chamas?”
-“Pedro.”
-“Oh
diabo, nesta terra só há Pedros?”
-“Há
só Pedros sim senhor” – respondeu o rapaz
-“Oh
mau isso já eu desconfiava ... porque encontrei uns poucos rapazes, todos
chamados Pedro!”
-“E
quantos rapazes o senhor procurar, tantos Pedros há-de achar!” – disse Pedro
das Malas-Artes
-“Bem
nesse caso já não busco mais. Queres vir comigo?”
-“Quero
sim senhor, mas com uma condição: aquele que se zangar perde a soldada.” –
respondeu Pedro
-“Pois
sim, anda d’aí!” – disse-lhe o lavrador
Marcharam
ambos a caminho do monte, e quando lá chegaram, diz o lavrador para a mulher:
-“Aqui
tens um rapaz que nos pode ajudar nos seuviços da casa.”
-“Como
se chama ele?” – perguntou a lavradora
-“Chama-se
Pedro.” –
-“Pois
então eu não te disse que não queria Pedros?!....”
-“
Pois sim, mas o que havia eu de fazer,! Se naquela aldeia não há senão Pedros?!
Mas ele sempre há-de fazer o que lhe mandarem. Não é assim, Pedro? – perguntou
o lavrador, olhando para o rapaz.
-“É
sim senhor, patrão!” – respondeu Pedro
A
lavradora ouvindo into mostrou-se mais conformada. No outro dia, de manhã cedo,
o lavrador levantou-se e mandou o rapaz ir buscar lenha ao mato. Pedro, ouvindo
as ordens do patrão, tratou de arranjar quantas cordas pôde e marchou para o
mato. Chegando ao mato, começou a estender à roda dele as cordas que levava. O
patrão farto de esperar pela lenha, diz para a mulher:
-“Olha
lá, o rapaz parece que não vem de lá hoje!”
-“Não
te disse eu que não arranjasse pedros!?”
N-“Não
tenho mais remédio senão ir à busca dele!” – diz o lavrador já zangado
E
partiu imediatamente para o mato, encontrando ali o rapaz entretido naquele
serviço. Não podendo conter-se, grita-lhe logo: - “ O que andas tu a fazer,
Pedro!” que não te despachas com a lenha?”
-“
Eu, patrão, ando enrolando o mato com estas cordas para depois puxar por ele, a
ver se o levo logo todo de uma vez, para não ter de vir à lenha todos os dias.”
O
lavrador vendo este grande disparate, ia começar a zangar-se, quando Pedro o
interrompe:
-
“Oh patrão! Está zangado?”
O
patrão, lembrando-se de repente da combinação feita no acto de contratar Pedro,
responde:
_”Eu
não. E tu estás?”
-“Eu
também não!” – respondeu Pedro
-“Bem
vamos lá arranjar alguma lenha para nos irmos embora.” – diz o patrão
Assim
fizeram; e chegados ao monte, o lavrador mandou Pedro ao poço. O rapaz o que
havia de fazer?... tornou a pegar nas cordas, e ele aí vai caminho do poço.
Assim que lá chegou, toca a enrolar o bocal com as cordas.
E
o patrão à espera... até que por fim, muito aborrecido, diz á mulher:
-“
O diabo do rapaz não vem hoje do poço!”
-“Eu
não disse que não contratasses Pedros!?” – respondeu a mulher
O
lavrador então, pegando numa quarta, resolveu-se ir ver o que fazia Pedro. E,
encontrando-oem volta do bocal do poço, pergunta-lhe em voz alta:
-“O
que estás aí a fazer,Pedro que não te despachas?
-“Eu
patrão ando a atar aqui o bocal do poço com estas cordas, a ver se, puxando por
elas, levo logo o poço duma vez, para não ter que vir buscar água todos os
dias.”
O
patrão, muito irritado com a ideia de Pedro, ia para se zangar quando este lhe
pergunta:
-“Oh
patrão, está zangado?”
-“
Eu não e tu estás?”
-“
Eu também não.” – respondeu Pedro
-“Bem,
enche lá esta quarta de água e vamos embora.” – diz o patrão
Regressaram
os dois ao monte, o lavrador mandou Pedro guardar os porcos, recomendando-lhe
que não os metesse nalgum atasqueiro. Pedro soltou os porcos e caminhando com
eles, encontrou um grande lamaçal. Do que havia ele de se lembrar? Foi esconder
por detrás de umas silvas, cortou o rabo e as orelhas a cada porco e veio
enterrá-las no lamaçal, da seguinte forma: duas orelhas adiante e um rabo
atrás. Isto para fingir que os porcos se tinham atascado até às orelhas.
Acabado o serviço, Pedro foi participar ao patrãoque os porcos estavam
enterrados num lamaçal.
O
Patrão aflito com esta notícia partiu imediatamente para o sítio indicado por
Pedro. Ao chegar àquele enorme atasqueiro, e não divisando senão as orelas e os
rabos, convenceu-se que os porcos estavam enterrados como dizia o criado. Ia
para se zangar, mas, como Pedro lhe fizesse a advertência do costume,
tranquilizou-se. Foi depois puxar por uma orelha das que estavam enterradas,
ficou-lhe na mão; foi puxar p+or outra, aconteceu-lhe o mesmo. Em vista dissto,
pensou o lavrador que os porcos só poderiam ser desenterrados com enxadas, e
por isso, mandou Pedro ao monte buscar as três enxadasmaiores que lá
estivessem. O Pedro das Malas-Artes, foi ter com a patroa e diz-lhe:
-“Oh
patroa, o patrão que me dê os três maiores taleigos de dinheiro que cá tiver.”
-“Isso
não pode ser!...” – respondeu a patroa – “então para que há-de o teu patrão
querer lá as taleigas do dinheiro?”
-“É
verdade sim, minha senhora. Faça favor de chegar aqui à rua do monte, e verá
que é verdade.”
A
patroa acompanhou o rapaz à rua do monte, de onde se avistava o lamaçal, e à
sua vista Pedro perguntou ao patrão, em voz alta:
-“Oh
patrão, as três maiopres?”
-“Sim,
as três maiores, com trezentos diabos!”
A
lavradopra julgando que se tratava das taleigas de dinheiro, entregou-as a
Pedro. Este assim que se as apanhou, fugiu em direção oposta àquela em que
estava o patrão.
No
caminho, Pedro encontro uma ovelha, tirou-lhe as tripas e meteu-as no peito.
Mais adiante, vendo umas mulheres a
lavar num barranco, perguntou-lhes:
-“
Oh mulheres têm aí uma navalha que me emprestem?”
-“Tenho
eu aqui uma. Toma-a lá” - diz uma das melheres
-“Então
para que queres tu a navalha?” – perguntou a outra mulher
-“Para
tirar as tripas que me pesam muito; e eu quero ficar leve para fugir mais, que
levo muita pressa” – respondeu o rapaz
Pegando
na navalha, Pedro rasgou a camisade alto a baixo, e as tripas da ovelha cairam
imediatamente no chão. Deu a navalha à mulher e partiu ainda com mais
velocidade que até ali.
O
lavrador cansado de esperar por ele no lamaçal, foi ao montesaber que demora
era aquela. A mulher do lavradormuito admirada, pergunta ao marido:
-“Então
ainda ele lá não chegou? E para que querias tu tanto dinheiro?!”
-“Qual
dinheiro? Eu mandei buscar algum dinheiro!?”
-“Então
não mandaste buscaras três maiores taleigas de dinheiroque cá tinhamos?”-“Eu
não, o que eu mandei buscarforam três enxadas para desenterrar os porcos que
ele meteu no lamaçal!”
-“Pois
já sabes que ele enganou-me! Lá nos levou as nossas três maiores taleigas de
dinheiro! Eu não te disse que não queria Pedros?!”
O
lavrador muito atrapalhado e compreendendo que estava roubado, perguntou à
mulher que caminho levara o rapaz. A mulher indicou-lho, e ele partiu a toda a
pressa.
Chegando
ao barranco, onde as mulheres estavam a lavar, perguntou-lhes se elas tinham
visto ali passar algum rapaz. Elas responderam que sim, e que até esse rapaz
lhes pedira uma navalha para arrancar as próprias tripas, a fugir de ficar mais
leve e fugir mais depressa.
-“
Assim que lhe cairam as tripas, o rapaz parecia um raio!” – disseram as
mulheres
-“Então,
façam favor de me emprestar a navalha para eu fazer o mesmo” – pediu o lavrador
As
mulheres emprestaram-lhe a navalha, e o pobre homem, caindo na asneira de
rasgar a barriga, escusado será dizer que ficou logo aliestendido, enquanto que
Pedro das malas-Artes vendo-se livre do patrão, tratou de gozar o dinheiro o
melhor que pôde.
FIM
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