Havia um rapaz chamado João Grilo, que
era muito pobrezinho.
Os pais queriam a todo o custo casá-lo
rico, apesar da sua pobreza e falta de estudos.
Um dia, espalhou-se por toda a terra que
tinham desaparecido as jóias de uma princesa e que o rei seu pai daria a mão da
princesa a quem descobrisse o autor do roubo; mas também castigaria com a morte
todo aquele que se fosse apresentar e que no fim de três dias não descobrisse o
ladrão.
Começaram os pais de João Grilo a
meter-lhe na cabeça que fosse tentar fortuna, mas o rapaz não queria, pois
sabia que alguns tinham sido mortos por não descobrirem as jóias.
Enfim, tanto o atentaram que o João
Grilo se foi apresentar ao rei.
Os
guardas do palácio não o queriam deixar entrar por o verem muito mal vestido e roto,
e começaram a escarnecer dele, dizendo-lhe que ele era doido e outras coisas
assim...
Por
fim, lá o deixaram entrar.
O
rei e a princesa também se riram muito dele, mas não tiveram remédio senão
cumprir a sua palavra.
Meteram-no
num quarto e deram-lhe três dias para pensar.
Ia
só um criado dar-lhe de comer; e à noite, quando esse criado lhe perguntou se
queria mais alguma coisa, ele respondeu que não, e ao mesmo tempo, dando um
suspiro, disse: - Já lá vai um!
O
criado saiu muito atrapalhado e foi ter com os outros dois criados, a quem
contou as palavras que o João Grilo tinha dito.
Estes
três criados eram justamente os que tinham roubado as jóias da princesa e julgaram
que o João Grilo tinha conhecido um dos ladrões e por isso tinha dito: - Já lá
vai um!
Enganavam-se,
porque ele se tinha referido a que já lá ia um dia, e ele ia caminhando para a
forca.
Os
criados combinaram que no dia seguinte iria outro, para ver se o João Grilo
também o conhecia.
Assim
fez; e à noite, quando perguntou se queria mais alguma coisa, respondeu João
Grilo que não e repetiu: - Já lá vão dois!
O
criado ficou assustadíssimo e foi logo contar aos outros. Imagine-se como eles ficaram.
No
dia seguinte foi o outro, e quando à noite se despediu para se ir embora, diz o
João Grilo: - Está pronto: já lá vão os três.
O
criado, julgando que estava tudo descoberto, deita-se aos pés do João Grilo e
diz-lhe:
-
É verdade, senhor, fomos nós os três, mas peço-lhe por tudo quanto há, que não
diga nada ao rei que somos nós os ladrões, porque ficaríamos desgraçados. Nós
damos as jóias todas, mas há-de ser com a condição de que não há-de dizer nada.
João Grilo caiu das nuvens, mas fingiu que efectivamente tinha adivinhado.
Prometeu
ao criado que não diria nada e mandou-lhe buscar as jóias, que ele trouxe logo.
Como
tinham acabado os três dias, o rei mandou chamar o João Grilo e perguntou-lhe:
-
Então já descobriste o ladrão?
-Saiba
Vossa Magestade que sim senhor! – respondeu João Grilo
O
rei riu-se muito, julgando que o rapaz era doido, mas ele apresentou-lhe as
jóias, sem dizer quem tinha sido o ladrão.
Imagine-se
como ficou a princesa, vendo que tinha de casar com aquele maltrapilho! Chorou
muito e pediu ao pai que não a casasse com aquele homem, mas o rei dizia-lhe
que palavra de rei não volta atrás e que era forçoso que eles se casassem.
A
princesa não teve outro remédio senão conformar-se; mas o João Grilo, que tinha
bom coração, vendo a repugnância dela, disse que desistia do casamento.
O
rei gostou muito dessa atitude e disse-lhe que pedisse o que quisesse, que ele
tudo lhe daria.
João
Grilo só pediu para ficar no palácio.
O
rei concordou e deu-lhe muitos sacos de dinheiro.
Ficou
o rapaz no palácio, e o rei julgava-o adivinhão.
Um
dia, o rei apanhou um grilo no jardim; fechou-o na mão e chamou o João Grilo.
Veio
o rapaz e o rei perguntou-lhe: - Oh João, adivinha lá o que eu tenho fechado
nesta mão?
O
rapaz coitado, começa a coçar a cabeça e a dizer: - Ai! Grilo, Grilo, em que
mãos estás metido!!
O
rei julgando que ele se referia ao grilo que ele tinha fechado na mão dele,
ficou muito contente, e disse: - Adivinhaste, adivinhaste, é um grilo! E
deu-lhe muito dinheiro.
Outro
dia, encontrou o rabo de uma porca, que tinham morto e enterrado no quintal.
Chamou
o João Grilo e perguntou-lhe: - Oh João, adivinha lá o que está aqui enterrado?
O
pobre João Grilo, não sabendo o que havia de fazer à sua vida, começa a dizer:
- Aqui é que a porca torce o rabo!
O
rei abraça-o muito contente, e diz: - Adivinhaste, adivinhaste, é o rabo de uma
porca! E deu-lhe mais dinheiro.
O
rapaz vendo-se rico e temendo que não adivinhasse mais alguma coisa, ou para
melhor dizer, que o acaso não o favorecesse, escreveu uma carta, fingindo ser a
mãe, a pedir que fosse imediatamente para casa, porque ela estava muito doente.
O
rei custou-lhe muito a saída dele do palácio, mas não teve outro remédio senão
deixá-lo ir.
Despediram-se.
O rapaz montou o cavalo e, quando já ia longe, o rei apanhou caganitas de cabra
que estavam no chão, meteu-as no lenço e começa a dizer-lhe adeus com o lenço.
O
rapaz que ia já longe e estava farto do rei, disse-lhe adeus, dizendo: - Adeus,
adeus, caganitas para Vossa Majestade!!!
O
rei ficou muito contente, e dizia: - Aquilo é que é um rapaz esperto! Como ele
adivinhou que eu tinha caganitas no lenço!
E
o rapaz foi para casa dos pais, estava muito rico e assim se viu livre do rei.
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