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Gosto de partilhar os meus conhecimentos com as pessoas, gosto de ter amigos, gosto de estar bem disposta, gosto de estar com a minha família, gosto muito da minha filha Rita

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

PEDRO DAS MALAS-ARTES

Era uma vez um lavrador e uma lavradora, que viviam num monte e precisavam dum rapaz para o seu serviço. Um dia, a lavradora, olhando para o seu marido, diz-lhe: -“ Tu devias ir à aldeia concertar um rapaz para nos aviar os mandados, ir ao mato e ao poço e guaradr os porcos.”
-“Pois bem, irei amnhã à aldeia tratar disso” – respondeu o lavrador
-“Vai, mas não me tragas algum que se chame Pedro. De modo nenhum quero Pedros cá em casa...”
No dia seguinte, o lavrador foi à aldeia, e assim que lá chegou encontrou-se com um rapaz a quem perguntou:
-“Oh rapaz queres concertar-te? (trabalhar?)”
-“Quero, sim senhor.”
- “Como te chamas?”
-“Pedro”
-“Oh diabo, não me serves.”
Dizendo isto o lavrador dirigiu-se para outra rua. E o Pedro das malas-Artes foi imediatamente colocar-se a uma esquina, por onde ele sabia que o lavrador havia de passar. O lavrador, ao passar por esse sítio, vendo ali o rapaz, e não percebendo que era o mesmo rapaz de à pouco, diz-lhe:
-“Oh rapaz, queres trabalhar?”
-“ Quero sim senhor”
-“ Então como te chamas?”
-“Pedro.”
-Oh diabo, não me serves.”
O lavrador, passando por outra rua, encontrou-se novamente com o Pedro, que já o esperava disfarçadamente. E, cuidando que era outro rapaz, diz-lhe:
_”-“Oh rapaz, queres trabalhar?”
-“ Quero sim senhor”
-“ Então como te chamas?”
-“Pedro.”
-“Oh diabo, nesta terra só há Pedros?”
-“Há só Pedros sim senhor” – respondeu o rapaz
-“Oh mau isso já eu desconfiava ... porque encontrei uns poucos rapazes, todos chamados Pedro!”
-“E quantos rapazes o senhor procurar, tantos Pedros há-de achar!” – disse Pedro das Malas-Artes
-“Bem nesse caso já não busco mais. Queres vir comigo?”
-“Quero sim senhor, mas com uma condição: aquele que se zangar perde a soldada.” – respondeu Pedro
-“Pois sim, anda d’aí!” – disse-lhe o lavrador
Marcharam ambos a caminho do monte, e quando lá chegaram, diz o lavrador para a mulher:
-“Aqui tens um rapaz que nos pode ajudar nos seuviços da casa.”
-“Como se chama ele?” – perguntou a lavradora
-“Chama-se Pedro.” –
-“Pois então eu não te disse que não queria Pedros?!....”
-“ Pois sim, mas o que havia eu de fazer,! Se naquela aldeia não há senão Pedros?! Mas ele sempre há-de fazer o que lhe mandarem. Não é assim, Pedro? – perguntou o lavrador, olhando para o rapaz.
-“É sim senhor, patrão!” – respondeu Pedro
A lavradora ouvindo into mostrou-se mais conformada. No outro dia, de manhã cedo, o lavrador levantou-se e mandou o rapaz ir buscar lenha ao mato. Pedro, ouvindo as ordens do patrão, tratou de arranjar quantas cordas pôde e marchou para o mato. Chegando ao mato, começou a estender à roda dele as cordas que levava. O patrão farto de esperar pela lenha, diz para a mulher:
-“Olha lá, o rapaz parece que não vem de lá hoje!”
-“Não te disse eu que não arranjasse pedros!?”
N-“Não tenho mais remédio senão ir à busca dele!” – diz o lavrador já zangado
E partiu imediatamente para o mato, encontrando ali o rapaz entretido naquele serviço. Não podendo conter-se, grita-lhe logo: - “ O que andas tu a fazer, Pedro!” que não te despachas com a lenha?”
-“ Eu, patrão, ando enrolando o mato com estas cordas para depois puxar por ele, a ver se o levo logo todo de uma vez, para não ter de vir à lenha todos os dias.”
O lavrador vendo este grande disparate, ia começar a zangar-se, quando Pedro o interrompe:
- “Oh patrão! Está zangado?”
O patrão, lembrando-se de repente da combinação feita no acto de contratar Pedro, responde:
_”Eu não. E tu estás?”
-“Eu também não!” – respondeu Pedro
-“Bem vamos lá arranjar alguma lenha para nos irmos embora.” – diz o patrão
Assim fizeram; e chegados ao monte, o lavrador mandou Pedro ao poço. O rapaz o que havia de fazer?... tornou a pegar nas cordas, e ele aí vai caminho do poço. Assim que lá chegou, toca a enrolar o bocal com as cordas.
E o patrão à espera... até que por fim, muito aborrecido, diz á mulher:
-“ O diabo do rapaz não vem hoje do poço!”
-“Eu não disse que não contratasses Pedros!?” – respondeu a mulher
O lavrador então, pegando numa quarta, resolveu-se ir ver o que fazia Pedro. E, encontrando-oem volta do bocal do poço, pergunta-lhe em voz alta:
-“O que estás aí a fazer,Pedro que não te despachas?
-“Eu patrão ando a atar aqui o bocal do poço com estas cordas, a ver se, puxando por elas, levo logo o poço duma vez, para não ter que vir buscar água todos os dias.”
O patrão, muito irritado com a ideia de Pedro, ia para se zangar quando este lhe pergunta:
-“Oh patrão, está zangado?”
-“ Eu não e tu estás?”
-“ Eu também não.” – respondeu Pedro
-“Bem, enche lá esta quarta de água e vamos embora.” – diz o patrão
Regressaram os dois ao monte, o lavrador mandou Pedro guardar os porcos, recomendando-lhe que não os metesse nalgum atasqueiro. Pedro soltou os porcos e caminhando com eles, encontrou um grande lamaçal. Do que havia ele de se lembrar? Foi esconder por detrás de umas silvas, cortou o rabo e as orelhas a cada porco e veio enterrá-las no lamaçal, da seguinte forma: duas orelhas adiante e um rabo atrás. Isto para fingir que os porcos se tinham atascado até às orelhas. Acabado o serviço, Pedro foi participar ao patrãoque os porcos estavam enterrados num lamaçal.
O Patrão aflito com esta notícia partiu imediatamente para o sítio indicado por Pedro. Ao chegar àquele enorme atasqueiro, e não divisando senão as orelas e os rabos, convenceu-se que os porcos estavam enterrados como dizia o criado. Ia para se zangar, mas, como Pedro lhe fizesse a advertência do costume, tranquilizou-se. Foi depois puxar por uma orelha das que estavam enterradas, ficou-lhe na mão; foi puxar p+or outra, aconteceu-lhe o mesmo. Em vista dissto, pensou o lavrador que os porcos só poderiam ser desenterrados com enxadas, e por isso, mandou Pedro ao monte buscar as três enxadasmaiores que lá estivessem. O Pedro das Malas-Artes, foi ter com a patroa e diz-lhe:
-“Oh patroa, o patrão que me dê os três maiores taleigos de dinheiro que cá tiver.”
-“Isso não pode ser!...” – respondeu a patroa – “então para que há-de o teu patrão querer lá as taleigas do dinheiro?”
-“É verdade sim, minha senhora. Faça favor de chegar aqui à rua do monte, e verá que é verdade.”
A patroa acompanhou o rapaz à rua do monte, de onde se avistava o lamaçal, e à sua vista Pedro perguntou ao patrão, em voz alta:
-“Oh patrão, as três maiopres?”
-“Sim, as três maiores, com trezentos diabos!”
A lavradopra julgando que se tratava das taleigas de dinheiro, entregou-as a Pedro. Este assim que se as apanhou, fugiu em direção oposta àquela em que estava o patrão.
No caminho, Pedro encontro uma ovelha, tirou-lhe as tripas e meteu-as no peito. Mais adiante, vendo umas mulheres  a lavar num barranco, perguntou-lhes:
-“ Oh mulheres têm aí uma navalha que me emprestem?”
-“Tenho eu aqui uma. Toma-a lá” - diz uma das melheres
-“Então para que queres tu a navalha?” – perguntou a outra mulher
-“Para tirar as tripas que me pesam muito; e eu quero ficar leve para fugir mais, que levo muita pressa” – respondeu o rapaz
Pegando na navalha, Pedro rasgou a camisade alto a baixo, e as tripas da ovelha cairam imediatamente no chão. Deu a navalha à mulher e partiu ainda com mais velocidade que  até ali.
O lavrador cansado de esperar por ele no lamaçal, foi ao montesaber que demora era aquela. A mulher do lavradormuito admirada, pergunta ao marido:
-“Então ainda ele lá não chegou? E para que querias tu tanto dinheiro?!”
-“Qual dinheiro? Eu mandei buscar algum dinheiro!?”
-“Então não mandaste buscaras três maiores taleigas de dinheiroque cá tinhamos?”-“Eu não, o que eu mandei buscarforam três enxadas para desenterrar os porcos que ele meteu no lamaçal!”
-“Pois já sabes que ele enganou-me! Lá nos levou as nossas três maiores taleigas de dinheiro! Eu não te disse que não queria Pedros?!”
O lavrador muito atrapalhado e compreendendo que estava roubado, perguntou à mulher que caminho levara o rapaz. A mulher indicou-lho, e ele partiu a toda a pressa.
Chegando ao barranco, onde as mulheres estavam a lavar, perguntou-lhes se elas tinham visto ali passar algum rapaz. Elas responderam que sim, e que até esse rapaz lhes pedira uma navalha para arrancar as próprias tripas, a fugir de ficar mais leve e fugir mais depressa.
-“ Assim que lhe cairam as tripas, o rapaz parecia um raio!” – disseram as mulheres
-“Então, façam favor de me emprestar a navalha para eu fazer o mesmo” – pediu o lavrador
As mulheres emprestaram-lhe a navalha, e o pobre homem, caindo na asneira de rasgar a barriga, escusado será dizer que ficou logo aliestendido, enquanto que Pedro das malas-Artes vendo-se livre do patrão, tratou de gozar o dinheiro o melhor que pôde.

FIM

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