Acerca de mim

Gosto de partilhar os meus conhecimentos com as pessoas, gosto de ter amigos, gosto de estar bem disposta, gosto de estar com a minha família, gosto muito da minha filha Rita

terça-feira, 11 de março de 2014

O COMPADRE DA MORTE

Um lavrador pobre tinha tantos filhos que não sabia a quem convidar para padrinho dos recém-nascidos. Quasi todos na aldeia eram compadres dele. Quando nasceu o último filho, ficou muito atrapalhado pois não sabia quem havia de convidar para padrinho da criança. Estava pensando no caso, quando passou por ele uma mulher muito alta, magra, vestida de branco que parou e o cumprimentou amavelmente. O lavrador perguntou se ela aceitava ser a madrinha do seu filho mais novo.
 Sabes quem sou eu?
 Não senhor! Mas  parece-me ser uma pessoa honrada e boa!
 Sou a Morte e aceito ser tua comadre. 
Acompanhou o lavrador à igreja, ficando sua comadre. Quando voltaram a casa, a Morte disse:  Escute lá. Não tenho dinheiro nem fazenda para o meu afilhado, mas posso fazer o meu compadre tornar-se um homem rico.
 Como será isso, minha comadre?
 Preste atenção! Diga a todos que é medico e vá atender aos doentes. Quando lá chegar vai ver-me. Se eu estiver no lado da cabeça do enfermo, receite-lhe o que quiser e ele curar-se-á, mas se eu estiver aos pés da cama, o homem está perdido.
 Pois é caso entendido, meu compadre.
Começou o lavrador, que era desempenado e afoito, a dizer-se curandeiro e visitar doentes por toda a visinhança. Quando via a Morte perto da cabeceira do doente, punha-o sadio em poucos dias. Quando via a Morte aos pés do enfermo, receitava umas águas simples, cobrava o dinheiro e ia-se embora, desenganando  todos os da família.
Ganhou fama e proveitos crescidos, ficando rico e conhecido em toda a parte.
Já muito velho, o curandeiro foi chamado por um homem muito poderoso e rico. Apesar de dizer que não queria ir, pois estava cansado e não podia mais aceitar consultas, foi obrigado a pôr-se numa carruagem e ir. Quando lá chegou, logo que olhou para o quarto do ricaço, avistou a comadre Morte, bem sentada aos pés da cama. A família do enfermo prometia os castelos de Espanha se o homem se curasse . O curandeiro imaginou um plano de burlar o pacto com a Morte e ganhar mais aquela fortuna. Mandou voltar a cama, de maneira a ficarem os pés onde estava a cabeça e esta onde estavam os pés. A Morte, assim que voltaram a cama, foi-se embora, sem dizer uma só palavra.
O curandeiro recebeu uma gorda quantia e voltou para casa satisfeito.
Anos depois, a Morte veio visitá-lo e  disse-lhe: — Meu compadre, de hoje a um ano virei buscá-lo porque deve ter chegado o dia da sua viagem…
O Curandeiro ficou espavorido com o anúncio. Para enganar a Morte mais uma vez, quando se aproximou o dia fatal, pintou os cabelos de preto, pôs umas barbas retintas, convidou uns amigos e começou a beber e a rir, como se fosse outra pessoa.
Chegou a Morte e, não o vendo, perguntou pelo seu compadre. Todos os convidados responderam que o dono da casa não estava e nem sabiam quando ele voltaria.
— Ora, ora — monologou a Morte, desapontada — como não posso perder o meu tempo nem a minha viagem, vou levar esse barbadão bebedor…
E levou com ela o seu compadre.

FIM

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