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terça-feira, 11 de março de 2014

A FONTE DAS TRÊS COMADRES

Era uma vez um rei muito poderoso que teve uma enfermidade nos olhos e ficou completamente cego. Consultou então os melhores médicos do mundo, tomou todos os remédios aconselhados pela ciência, mas nada conseguiu. A sua cegueira parecia incurável. Um belo dia, apareceu, no palácio, uma velhinha a pedir esmola e, sabendo que o rei estava cego, pediu licença para lhe dirigir a palavra, pois desejava ensinar-lhe um remédio maravilhoso.
Conduzida à presença do rei, ela disse-lhe:
— Saiba Vossa Majestade que só existe uma coisa capaz de fazer voltar a sua vista: é banhar os seus olhos com água tirada da Fonte das Três Comadres. É muito difícil, porém, ir a essa fonte que fica num reino situado quase no fim do mundo. Quem for buscar a água deve entender-se com uma velha que mora perto da fonte. Ela conhece o dragão que guarda a fonte e sabe quando ele está acordado ou adormecido.
O rei ficou muito satisfeito com a informação da velhinha e recompensou-a com uma bolsa cheia de dinheiro.
Mandou, em seguida, preparar uma esquadra de vários barcos para conduzir o seu filho mais velho que deveria ir buscar a água da fonte milagrosa. Deu-lhe o prazo de um ano para cumprir a sua missão, aconselhando-o a não parar em nenhum porto para não se distrair do que devia fazer. O príncipe partiu, mas no meio da viagem, encontrou uma cidade onde havia muitas festas e lindas moças. Atraído pelos divertimentos, aí ficou a gastar todo o dinheiro que levava e contraindo grandes dívidas. No fim do prazo que lhe fora marcado, não seguiu viagem nem voltou ao reino do seu pai, o que causou a este um profundo desgosto.
Resolveu então o rei preparar outra esquadra de vários barcos a fim de que o seu segundo filho fosse buscar a água maravilhosa. O moço partiu, mas encontrou no seu caminho a mesma cidade onde se havia arruinado o seu irmão mais velho. Ficou também encantado pelas festas e pelas moças bonitas, e gastou tudo o que trazia, esquecendo-se da missão que o seu pai lhe confiara. No fim de um ano, ainda se encontrava nessa cidade, pobre e endividado.
O rei, ao saber da notícia do que acontecera ao seu segundo filho, ficou muito triste e desanimado. E perdeu a esperança de curar a sua cegueira. Mas o seu filho mais novo, que era ainda um menino, não se conformou com os acontecimentos e disse-lhe:
— Agora, meu pai, eu é que vou buscar a água. Garanto-lhe que hei-de trazê-la!
O rei procurou dissuadi-lo: — Se os teus irmãos, que eram homens nada conseguiram, que poderás tu fazer, meu filho ?
Mas, o pequeno príncipe tanto insistiu e rogou, que o pai acabou por ceder. E mandou preparar uma esquadra para a sua viagem. O jovem partiu cheio de esperança. Depois de muito navegar, encontrou a famosa cidade onde os seus irmãos já se achavam presos pelas dívidas que haviam contraído. O príncipe pagou as dívidas dos irmãos e conseguiu pô-los em liberdade. Estes tudo fizeram para dissuadir o rapaz de seguir viagem. Mas o príncipe nada quis ouvir e continuou, resolutamente, a sua jornada.
Ao chegar à região onde se encontrava a Fonte das Três Comadres, desembarcou sozinho, levando apenas uma garrafa. Seguiu logo para a casa da velhinha, que residia perto da fonte.
Esta ao vê-lo ficou muito admirada, dizendo: — Por que vieste aqui, meu netinho? Estás a correr um grande perigo! O monstro que vigia a fonte é uma princesa encantada que tudo devora. Se quiseres, realmente, apanhar água da fonte, aproveita a ocasião em que o monstro estiver adormecido. Quando ele estiver com os olhos abertos, podes aproximar-te sem receio. É sinal de que está a dormir. Mas se o encontrares com os olhos fechados, foge depressa, pois ele estará, de certeza, acordado.
O príncipe prestou bastante atenção aos conselhos da velha e seguiu para a fonte. Quando lá chegou, viu que a fera estava com os olhos abertos. Verificando que ela estava a dormir, o príncipe aproveitou o momento para encher a sua garrafa com a água milagrosa. Mas, quando se ia a retirar cuidadosamente, o monstro acordou e lançou-se, com fúria, sobre o rapaz. Este puxou da espada e travou uma luta terrível com a fera. Depois de muito lutar, conseguiu ferir o horrendo bicho e fazer o seu sangue correr. Nesse momento, o monstro desencantou-se, transformando-se numa belíssima princesa. O príncipe ficou extasiado, pois nunca tinha visto uma moça tão formosa.
Ela então disse-lhe: — Prometi que havia de me casar com aquele que me desencantasse. Portanto, dentro de um ano, virás buscar-me. Se não o fizeres, irei à tua procura.
E para que ela pudesse reconhecer o jovem príncipe, quando fosse buscá-la, a princesa deu-lhe um pedaço do seu vestido.
Contente e feliz, o príncipe partiu de volta à sua terra. Ao passar pela cidade onde se encontravam os seus irmãos, convidou-os para embarcar na sua esquadra, a fim de que pudessem regressar ao seu país. Os irmãos aceitaram o convite. O rapaz havia guardado a garrafa com a água milagrosa dentro de uma mala. Os seus irmãos armaram, então, um plano para lhe roubarem a garrafa e se apresentarem ao pai como seus salvadores. Para isso sugeriram, ao príncipe, dar um banquete no barco para comemorar o facto de ele ter conseguido o maravilhoso remédio. Durante a festa , os irmãos, aproveitando-se da boa fé do jovem príncipe, conseguiram que ele bebesse muito vinho e adormecesse profundamente. Tiraram-lhe do bolso a chave da mala, abriram-na, tiraram a garrafa com o remédio e substituíram-na por outra garrafa cheia de água do mar.
Quando a esquadra atracou no porto da sua terra, o príncipe foi recebido com grande alegria e muitas festas. Mas, quando ele colocou nos olhos do pai a água que supunha ser da fonte maravilhosa, o velho soltou um grito de dor, devido ao sal do mar, e continuou cego. Os dois irmãos traidores acusaram então o príncipe de impostor e declararam que eles é que tinham ido buscar a água milagrosa. Dizendo isso, banharam com a mesma os olhos do rei que recobrou a visão.
Houve então grandes festas e banquetes no palácio e o jovem príncipe foi condenado à morte. Mas os soldados encarregados de degolarem o príncipe, ficaram com pena do rapaz e  deixaram-no na floresta. O príncipe ficou tão desgostoso que perdeu o amor à vida. Um lenhador malvado encontrou-o, caminhando como um louco, no meio da mata. Vendo que ele não reagia, fez dele seu escravo, obrigando-o a trabalhar, sem descanso.
Um ano depois, chegou a ocasião em que o rapaz devia ir casar com a princesa, conforme havia combinado na Fonte das Três Comadres. Como ele não aparecesse, a princesa ficou preocupada. Mandou então aparelhar uma poderosa esquadra e partiu para o reino do príncipe. Chegando lá, deu ordem ao comandante da esquadra para avisar o rei de que ele devia enviar-lhe o filho que fora ao seu reino buscar um remédio e lhe prometera casamento. Caso o noivo não viesse ao seu encontro, ela ordenaria à esquadra para fazer fogo sobre a cidade. O rei ficou apavorado e mandou o seu filho mais velho apresentar-se à princesa, supondo que ele fosse o noivo.
Mas a princesa, ao vê-lo disse: — Grande mentiroso, onde está o sinal do nosso reconhecimento?
Ele, que nada possuía, ficou calado e voltou para terra envergonhado.
Nova intimação e foi ter com a princesa o segundo filho do rei. Repetiu-se a pergunta anterior e o príncipe nada respondeu. A princesa mandou então que os canhões da sua esquadra fossem preparados para bombardear a cidade. O rei ficou aflitissimo, com a certeza de que a capital do seu reino seria arrasada, pois havia mandado matar o filho mais moço. Nesse momento, surgiram os dois soldados encarregados de executar o jovem príncipe, que confessaram ao rei que não o tinham degolado. Saiu toda a gente à procura do príncipe e foi prometido um grande prémio a quem o encontrasse.
O lenhador que o tinha escravizado ficou muito assustado quando soube que ele era filho do rei. Mais do que depressa, colocou o rapaz, que estava muito magrinho e enfezado, às costas e levou-o ao palácio. O príncipe foi então lavado e vestido com lindas roupas. O prazo que a princesa tinha concedido já estava a terminar e, quando os canhões iam começar a bombardear a cidade, o rapaz correu ao encontro da princesa, sendo logo reconhecido por esta, devido ao pedaço do vestido que levava na mão. A princesa abraçou-o chorando de alegria. Seguiram então para o reino da princesa onde se casaram no meio de festas que duraram seis meses. O rapaz tornou-se rei de um dos países mais belos e ricos do mundo. Os seus irmãos traidores foram expulsos do reino do seu pai e condenados a pedir esmola até ao fim da sua vida.


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